quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Contos de agosto: Musa divina leonina de 12 de agosto

Hoje é dia de show de Ana Carolina no Festival de Inverno em Ipíabas, distrito de Barra do Piraí/RJ, e, apesar de eu não poder ir (trabalho na sexta-feira de manhãzinha como professor de Português em Teresópolis/RJ), o evento acabou me relembrando histórias do passado, para ser mais exato, histórias de histórias que escrevi.
Conhecendo o público assíduo de Ana Carolina, formado principalmente por gays e lésbicas (por favor, não entendam como zombaria, pois não tenho nenhum preconceito com o movimento GLS – o qual apoio e no qual tenho grande círculo de amizades -; cito apenas porque é inegável que a presença desse grupo é intensa nos shows da cantora Ana Carolina, fato admirável e que não exclui a grande porcentagem de pessoas não ligadas à causa GLS que também se faz presente nas apresentações da compositora de “Garganta”, entre outros sucessos), lembrei-me de uma amiga minha que, certa noite de um agosto distante, me pediu que lhe escrevesse um texto para sua musa momentânea, uma autêntica leonina que sequestrou por um fugaz momento o coração de minha companheira de confidências. Levei a sério o pedido, tomei informações da musa inspiradora com minha amiga e produzi algo entre o conto, no estilo Caio Fernando Abreu, e a prosa poética, num lirismo meio Ana Cristina César.
O resultado da obra foi fugaz na prática: serviu para minha amiga presentear sua musa temporária naquele distante agosto, porém relações incendiárias sofrem o risco de virarem fumaça e foi o que aconteceu entre minha amiga e a musa leonina. De qualquer forma, fica eternizado o texto, algum tempo depois publicado no meu livro “Diários de solidão” (2010), e agora postado nesse blog, em homenagem à minha amiga, que atualmente vive tempos de calmaria sem perder o amor, sem perder suas novas paixões, ao meu irmão, homossexual assumido e companheiro de balada porra-louca, com quem, infelizmente, devido aos ossos do ofício, não poderei desfrutar dos prazeres e agitações do espetáculo de Ana Carolina, e a todos os romeus incompreendidos que veem a amada na bancada e que, carentes de elevadores e escadas, não podem fazer nada mais que admirar o seu amor impossível. Pra ser lido, ouvindo um CD de Ana Carolina ou a balada "Fogo", de Capital Inicial:

Musa divina leonina de 12 de agosto

Mais uma vez, passo por teu edifício. Levanto a cabeça buscando outras formas divinas muito além de Deus. Mas não te encontro... Minha fé em teu corpo (tão íntimo e tão próximo do meu) permanece fervorosa, mas o céu aberto, claro e límpido revela tua janela fechada, minha igreja trancada, minha religião negada. E mesmo assim passo lentamente, sigo meu caminho inexato, minha falta de rumo. E mesmo assim sussurro uma prece popular (“Quando Deus te desenhou...”), esperando que o vento leve esses versos, essa minha voz calada até a tua janela fechada. “Abra a janela, traga uma escada e receba meus sonhos”, meu coração cheio de loucas ilusões implora mil ações tuas, mil movimentos - aprendi muita coisa contigo, garota, e sei que posso aprender muito mais! Saudade azul celeste, o céu aberto, a janela recém-aberta (Quanto tempo passei aqui esperando? Estarei delirando?), mas tu não apareces com a escada, com meus sonhos, com teu corpo moreno, rico e saboroso e tenho medo de esquecer do teu sabor, da tua risada, da tua cor porque a dor permanece, princesa mimada. Tens tudo que queres e o que não queres: o céu - novamente o céu, musa divina! -, o mundo, a beleza, os desejos, a sensualidade leonina, a embriaguez dos lábios de tequila, tens o meu amor, o meu desprezo, minhas lembranças escondidas, meu desespero apaixonado por teu corpo tão próximo do meu; tens a mim, princesa encantada, sou tua ovelha perdida, a ovelha desgarrada que te confunde e excita tuas doces garras. Toque meu seio esquerdo, futura médica, sinta os batimentos, toque meu seio esquerdo, doutora dos movimentos secretos, sinta o quanto ele está duro, firme na ganância de te rever... Se algo ou tudo que digo não faz nenhum sentido, a culpa é tua que não me entendes, foi tua beleza que me confundiu e eu nunca fui santa, garota, tu me conheces, minha religião é outra e, poxa, por que não reapareces? Fiz uma tatuagem em meu corpo pra não te perder completamente, doeu demais e ainda dói - de que adianta uma marca tua se não me marcas com tua presença imediata (apenas fantasmas noites amorosas esporádicas não me satisfazem, tu bem sabes disso, musa linda e cretina)? De que adianta eu perder o juízo se também te perdi?

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