quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Poema de agosto, mês do desgosto (político)

O eu lírico da capa do livro esfumaça
como a ética política  em nosso país

Queria hoje comemorar com vocês, leitores, as mais de 500 visualizações desse blog em menos de 2 semanas, queria simplesmente agradecer e garantir que sempre haverá uma novidade por vir, sempre estarei aqui de corpo e alma, lírico e realista, em prosa e verso, amoroso e agressivo, virtual em carne e osso, queria lhes falar sobre o amor, mas hoje não dá. Após mais de 500 anos de Brasil, ainda me deparo em menos de um dia com péssimas notícias: o prefeito de Teresópolis afastado por suspeitas de corrupção, ex-deputados estaduais se promovendo com catástrofes naturais, aumentos virtuosos em salários de deputados do Rio Grande do Sul (com direito a processo ao músico gaúcho Tonho Crocco, que no rap “Gangue da Matriz” denunciou com arte os fanfarrões – nem a liberdade de expressão sobrevive nesse país), a ridícula proposta de irrisórios 3,5% de aumento aos profissionais em greve da educação estadual do Rio de Janeiro, a votação do machista Dia do Orgulho Heterossexual pela Cãmara de São Paulo, “direita e esquerda, os três patetas, os três poderes”, como nos lembra Humberto Gessinger; são mais de 500 anos de podreira política no país, os “300 picaretas com anéis de doutor” (refrão da música “Luis Inácio”, da banda Os Paralamas do Sucesso, inspirada numa frase do outrora deputado Lula, hoje metamorfoseado em ex-presidente que nada viu e que nega tudo que falou), os 300 bandidos políticos se multiplicam, proliferam como amebas, lombrigas, deixando bilhões de organismos públicos roubados e um sistema cada vez mais doente. Em (des)homenagem a essa atualidade decadente, deixo-lhes um poema antigo, publicado em meu livro “Eu e outras Províncias” (2008), e, por mais triste que seja, ainda recente:

O barulho dos indecentes

Minha gente meu povo meu Brasil possessivos agressivos primeiros de abril
Meritíssimos Ilustríssimos Excelentíssimos palavrentos palavrosos palavrões emboladas emboscadas embromações folhas falhas falácias constituições
Eles gritam porque não te escutam
Eles gritam pra que não discutas
Eles gritam porque não sabem ouvir
Falam com falos com facas com farsas
Amassam as massas com máscaras
Fundam afundam confundem
São sujeitos determinantemente indeterminados
São ternos paletós são nós (de gravata)
São canetas capetas caretas importadas
São sãos enquanto adoeces...
Ó Oscar Niemeyer, observai vossos filhos
Estão ruindo com os gritos
Da república dos distintos umbigos
Ó Liberdade Liberdade oh! que saudade!
Por que não mudas não mudas de lugar?
Por que sempre muda enquanto eles gritam sem parar?

Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto, muito importante ter alguém como vc, para falar-escrever-gritar!

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