sábado, 20 de agosto de 2011

Verse essa canção: "Ninguém é de ninguém" (versão twitter)

Essa é uma (sub)versão da música "Ninguém é de ninguém", do CD "Sexo, drops e rock'n roll" (1990), de Leo Jaime. É uma homenagem ao cantor, autor de sucessos como "A fórmula do amor" (recentemente regravada pelo compositor numa versão mais moderna e bastante vibrante). Devido a sua aparição em programas de sucesso como o "Amor e Sexo", Leo Jaime sofre no Twitter com intimações de seguidores que querem ser seguidos por ele, como se liberdade no amor pudesse ser negociada em atração mútua forçada. Serve pra lembrarmos que nós, fãs, no Twitter, podemos ser seguidores ativos, mas jamais perseguidores possessivos (a doença do ser social surge na mania do ter como se pessoas fossem moedas de troca): 


Eu te amo não é dar bom-dia
Aprender não é só ir na escola
E ganância não é ambição
Ter bondade não é dar esmola, não

            Manhã de sábado quente, a tela do computador queima meus olhos insones. Uma resposta em um de meus twitters: “Sou tua fã. Te amo. Siga que eu te sigo.”, sem erros de grafia, sem ultrapassar os limites de caracteres, sem sentido, sem ao menos um por favor. Eu falava sobre o vento e sua leveza, sobre o sexo e o amor e o twitter- resposta nada me respondia; era uma nova incógnita sem valor.

Ter comida não é ter dinheiro
Ter dinheiro não é ter sucesso
Ter sucesso não é ter prestígio
Ter prestígio não é ter comida

            A imagem dos olhos dela no perfil mostram fome de seguidores, ganância pelo vazio. “Sou tua fã. Te amo. Siga que eu te sigo.”, mais uma vez leio o twitter que não me faz sentido. Jóias no pescoço dela – ela me quer como um novo tesouro, pobre menina rica e vazia. É muito magra, seu perfil me relembra vítimas de anorexia – o prato dela seria o meu eu virtual a seguindo todos os dias.  

Ter amor não é ter companhia
Se casar não é se aposentar
A beleza não é vaidade
E histeria nunca foi coragem

            Ela diz que me ama, diz que até me seguiria... Esse momento seria lírico se não tivesse a subordinativa: “Siga que eu te sigo.”; ah! ela não me ama; só quer companhia. Seria bela se apenas me deixasse vê-la, seria sublime se não me prendesse numa armadilha de tela de computador. O twitter dela me grita uma estranha histeria: ela quer meu perfil em sua estante virtual, sua coragem é uma ousada covardia diante do consumismo banal.

Desespero não é covardia
Solidão não é liberdade
Alegria não é gargalhada
E a verdade não é só verdade

            Ah, e a covardia dela é calma para gritar sem desespero, sua liberdade me prende na sua rede de solidão possessiva, sua gargalhada sincera no retrato impulsivo; “Siga que eu te sigo” – sua alegria possui um triste perfil, suas verdades ocultam uma mentira ruim.
           
Peraí, eu não sou seu
E ninguém nunca foi de ninguém
Peraí, eu disse peraí
Querer muito não é querer bem

            Quem disse a ela que sou seu animal de estimação virtual, quem disse a ela que pareço com uma louça do mercado municipal, quem disse a ela que ela podia me dizer: “Siga que eu te sigo” como se chumbo trocado fosse armistício? Seguir não é me perseguir, entenda bem! Não sigo os umbigos alheios; prefiro seguir no coletivo, distanciado da sua conexão fatal, escolher o outro caminho, mais real. O sorriso desse sábado me chama em algum horizonte infinito e os lábios dos raios solares seguem meu corpo, sem cobrança, em liberdade, já posso sentir! Adeus, perseguidora do twitter que não vou seguir!

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