sábado, 12 de novembro de 2011

Poema para um dia de cão: Lábios, cigarros, mãos e fumaças

Hoje foi um dia de cão (vira-latas): saí de madrugada de Teresópolis para o Rio de Janeiro, cheguei cedo na Novo Rio às 6:45h e, devido ao grande movimento de passageiros por causa do feriado, só consegui passagem para as 9h. Após mofar na rodoviária, o ônibus, devido a trapalhadas da viação (in)Util, saiu atrasado meia hora e, ao chegar em Piraí, o transporte enguiçou, quebrou. Reclamei (em vão; não havia gerente nem atendente que me desse ouvidos) com a empresa e telefonei pra FETRANSPOR para expor o problema e registrar minha indignação. Descobri que a viação tinha 3 horas (!!!!) de prazo para arrumar outro ônibus, tive que ouvir a mulher de um passageiro - tão prejudicado quanto eu - falar pra se afastar de mim, pois o meu ato de registrar o fato em ligação a FETRANSPOR era visto por ela como "uma atitude inconsequente; tá querendo é arrumar confusão"; vi o ônibus que saiu 10h do Rio passar por nós, diante dos olhos passivos dos passageiros prejudicados pela confusão da empresa (só eu liguei pra registrar o mal estar e o descumprimento dos nossos direitos; todos reclamavam, mas preferiam ficarem anônimos em suas revoltas ardentemente passivas). Depois disso tudo, preferi chegar em Valença através de baldeamento, usando linhas de outras viações. Resumo: só alcancei meu destino no início da tarde quando previa estar em casa umas 10/11h... Durante a viagem, tentei resolver outra viagem e constatei, ao ligar para o motorista (por problemas da operadora Claro, não conseguia efetuar tal ligação pelo meu celular dias anteriores quando ainda estava em Teresópolis) que a van que sairia de Barra do Piraí estava lotada, logo terei que me virar de outra forma pra chegar a Paulínia e curtir o Festival da SWU (mas que eu vou chegar lá eu vou, com certeza!). Cansado, me deparei com problemas familiares e até agora meu corpo desconhece o que é dormir em paz. Lamento, leitores, mas a seleção do poema inédito postado hoje no blog foi extremamente influenciada por esse dia de m... que tive. Mais um poema inédito do "Foda-se e outras palavras poéticas" (previsão pra 2012, o mais novo ano do fim do mundo) pra ser lido num dia em que a Lei de Murphy ("não há nada tão ruim que não possa piorar") reina em sua rotina: 



Lábios, cigarros, mãos e fumaças

“Minha angústia feroz não tinha nome.”
Augusto dos Anjos, “Os doentes”


No meio do meu mundo
No fundo da cidade
Numa praça qualquer
Meu pulmão se esfumaça
Enquanto o cigarro se apaga em meus lábios
Um cigarro igual a qualquer outro
Cigarro
O cigarro em meus dedos
Pigarro
Nos lábios, a solidão e a fumaça
Na cidade, nada
Tédio - um pássaro sem asas
Estou sempre no mesmo lugar
No mesmo lugar, está o nada
Nada - este lugar
Meu lugar - meu nada
           

Abaixo do mundo
Debaixo dos rostos
Cubro meus olhos com as mãos
Como se o líquido das lágrimas não passasse pela pele parca
Como se o calor das lágrimas diminuísse a frieza das mãos
Outra mão em meus ombros caídos
Mão desconhecida
Não é amiga - apenas quer um cigarro
Qualquer um...
Como se o carinho das mãos aumentasse as chances de
Um trago
Como se os desejos das mãos não fossem apenas o de apertar
Um cigarro...
Leva o maço! Esfria o seu calor na fumaça
Lábios carnudos
Desconhecidos que não dizem nada
O pigarro talvez lhe faça melhor companhia
Adeus, batom obscuro
Lábios obtusos que levam meu cigarro
Mãos macias que acariciam o nada
Adeus
E fica uma fumaça
Outra fumaça
Outro nada.

Um comentário:

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