segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Velhos poemas juvenis: Poema para os covardes

Em 1605, foi publicada em Madri a primeira edição de "Dom Quixote", obra imortal de Miguel de Cervantes. Comemorar essa data especial é lembrar das condições atuais dos que fazem (ou, pelo menos, tentam fazer) alguma forma de arte. Fazer arte no meio da politicagem corrupta e para uma sociedade que incentiva a banalidade é diversas vezes um ato quixotesco e um tanto inquietante. O artista é ridicularizado como um espécime raro e esquisito ou é visto como um insano que necessita urgentemente de internação e reabilitação através da desconsideração e silêncio. Como dizia um poeta pós-moderno, "hoje não adianta mais gritar, pois os ouvidos tem paredes". 
É muito difícil não desanimar de vez em quando, mas uma Dulcinéia incansável resiste na alma dos artistas; há sempre alguém que te lê, há sempre um canto escuro nas margens do rio onde a água deságua cristalina e rica de poesia. Porém essa minoria, muitas vezes, é atropelada, renegada e impunemente ferida pela maioria que rumina. O poema que posto hoje, escrito no auge de minha jovem rebeldia, publicado no meu primeiro - e ainda imaturo, de título incompreendido (era uma ironia às eternas promessas de fim de mundo e à novela global com tal nome) - livro "Fim do fim do mundo" (1997), é uma (des)homenagem a essa massa escrota que transforma justiça em pizza, presença em bolo e ignorância egocêntrica em pastelão altamente consumível. Pra ser lido ao som de "Blues da piedade", de Cazuza:


Poema para os covardes

Ocultou o seu nome do meu livro
Nem notou que já estava nele todo
Em sua capa, em suas páginas
Nas minhas idéias de ideais
Me decepcionou: foi covarde
Não admitiu uma novidade
E, com isso, não aprendeu
Que não adiantar julgar
Novas palavras
Se não entende o seu
Significado.

- Ocultou o seu nome
Mas se esqueceu de também ocultar
A sua tolice. 

Um comentário:

  1. Dizem que a flor de lotus é a mais pura flor e vive em meio a dejetos, com a poesia se dá o mesmo.Ela viverá sempre nas nascentes dos rios para onde as almas que desejam purificar-se desaguarão. Como mesmo voce disse acima:

    "É muito difícil não desanimar de vez em quando, mas uma Dulcinéia incansável resiste na alma dos artistas; há sempre alguém que te lê, há sempre um canto escuro nas margens do rio onde a água deságua cristalina e rica de poesia."

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