segunda-feira, 30 de abril de 2012

Solidões Compartilhadas: Os pedaços de Laura Roberto

Dia Nacional da Mulher e o blog abre de novo suas solidões poéticas para os talentos femininos. Pela terceira vez, compartilho esse espaço virtual com a escritora paulistana Laura Roberto (ou Laura Osb ou... quem saberá quem ela será amanhã?). Mãe, roqueira, mulher, dona de um estilo próprio, de sublime minimalismo, Laura Roberto constrói uma poética fragmentada, rica do mais sofisticado lirismo, cujos fragmentos ganham múltiplos sentidos, podendo ser lidos juntos ou separadamente (procurem no marcador "Solidões Compartilhadas" os demais fragmentos e confiram com seus próprios olhos o estilo genial dessa escritora). Uma das marcas de seus textos é o uso dos colchetes com três pontos dentro (de uso comum quando copiamos um fragmento de texto de outro autor, inédito em textos autorais), alerta para o quebra-cabeças de sua escrita. A prosa poética de Laura Roberto é o mais belo retrato de nossa contemporaneidade caótica, fragmentada, liricamente angustiada, buscando cacos da humanidade quebrada. Boa leitura!

Pedaços


"[...] Às vezes o sinto cair
O sinto trincar
Quebrar-se em mil pedaços
Mas como isso é possível
Se desde a sua última queda
Não consegui colar nenhuma de suas partes? [...]"


Solidões compartilhadas: O poema invertido de Juliana Guida Maia



Hoje, no Dia Nacional da Mulher, compartilho minhas solidões poéticas mais uma vez com a genial poeta Juliana Guida Maia (musa especial pra meus eus líricos e pra meu eu eu mesmo). Fã-nática por Engenheiros do Hawaíi, dona de um lirismo ousado e camaleônico, vencedora de diversos concursos poéticos, a poeta valenciana Juliana Guida Maia vira a nós, leitores e amantes, de ponta a cabeça com seu poema invertido sobre o sentimento-delírio-exatainexatidão chamado amor.

Poema invertido
(ou um olhar apaixonado)

Uma estrela nas pedras da calçada
Para cada passo de tuas mãos
Minha boca te vê
E meus olhos te beijam
Parece que teus braços caminham na contramão
Corro pra trás quando te vejo
O cheiro nas minhas orelhas é forte e de flores
Tuas pernas na minha cabeça
Meu nariz escuta a voz
Que sai da tua saia
Teus sentimentos no meu sexo
Tuas nádegas no meu coração
Do avesso te vejo por fora
Por dentro vejo teu olhar
Meus sentidos pipocam
Pra lá e pra cá
Gritos nas pontas dos dedos
Só pode ser amor
Tamanha inversão.

domingo, 29 de abril de 2012

Poema em descompasso: Dança embriagada

Hoje é o Dia Internacional da Dança! Em homenagem a minha completa falta de balanço, posto hoje um poema mal dançado, uma dança embriagada, inspirada na "A valsa", do poeta ultra-romântico Casimiro de Abreu, publicada em meu quinto livro "Eu e outras Províncias" (2008). Pra ser lido ao som de "Eu não sei dançar", de Marina Lima:







Dança embriagada
(Valsa moderna, Hi-fi ou 
o ritmo piegas e ébrio do amor)

                        Um, dois, três...
                        O relógio
                        Na parede
                        Flutuando
                        Sala escura
                        Tudo escuro
                        Essa música
                        Esse vinho
                        Vem comigo...
                        Me acompanha...
                        Um, dois, três...
                        Vem amiga
                        Deixa vir
                        Um amor

            Passo a passo
            Largo o copo
            Mancho a roupa
            Com seu líquido
            Vinho doce
            Tinto, sangue
            Estou bêbado
            Ou perdido
            Bem perdido
            Nós estamos
            Sós ... Um, dois...
            Matemática
            Corporal
            Vem ser minha
            Um minuto
            Talvez dois
            Vem somar...

Descompasso
Nos teus braços
Um sorriso
Coração
- qual a música?
Está dentro
Deixa estar
Dentro, dentro
Entre os corpos
Movimento, e-
Terno nó

            Rostos próximos
            Movimento
            Passo a passo
            Descompasso
            Sempre próximos
            Sempre lentos
            Sempre ardendo
            Teus sussurros
            Meu silêncio
            Um... sorriso...
            Um... momento...
            Se não falo...
            Corpo, fale!
                        Transmita meus sentimentos...

                        Precipício!...
                        Me desculpa!
                        Tropecei...
                        Distraí...
                        Deixei vir
                        Sentimentos
                        Mas não deixas
                        Vens amiga
                        Pensamento
                        Cessa a música
                        Seca o vinho
                        Nem consigo a-
                        Companhar
                        Vais amiga
                        Deixo vir
                        Uma dor

Tempo curto
Corta a noite
(nós estamos
sós e longe)
Curta noite
Curta como
A canção.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Meu poema beatdylan ou A triste história do cachorro que me sorriu

Hoje, no meio de tanta correria e atropelos, dedico-me ao "Parque de diversões em minha cabeça", obra-prima de Lawrence Ferlinghetti, poeta estadunidense da geração beat, de 1950, que abalou as estruturas do hipócrita "american dream" e influenciou a música e arte do mundo inteiro (Bob Dylan, tropicália, manguebeat e muito mais, inclusive eu!). Convidado, por Janaína da Cunha e Nana B. Poetisa, para participar do Evento Identidade Cultural & Movimento Culturista - "Homenagem a Geração Beat e a Contracultura", amanhã, dia 28 de abril, a partir das 12h, no Bistrô Café do Bom, Cachaça da Boa, na Rua da Carioca, centro do Rio de Janeiro/RJ, resolvi ampliar meus estudos sobre essa geração de grandes artistas, que teve como ícone Jack Kerouac e sua filosofia "On the Road". 
Ler Ferlinghetti deixou-me 'com os olhos baixos o tempo inteiro e cantando pra mim mesmo' (parafraseando os versos finais do sexto poema do livro); viajei em sua cabeça alucinada, observando os "cidadãos mutilados em carros pintados que devoram a América"; pensei na cidade com ares de megalópole Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa do Brasil, e os milhões de cidadãos mutilados, perambulando pelas suas ruas, sem casa, num lugar que declara abrigar o mundo com braços e sorrisos abertos. Fui acolhido assim e só tenho a agradecer aos artistas cariocas amigos. Mas... e o mendigo? 
A reflexão permaneceu enquanto eu ouvia Bob Dylan, músico extremamente influenciado pelo beat. Ouço "Queen Jane Approximately", penso em todos os turistas partindo e o mendigo, aquele louco mendigo carioca da gema, continuando: "Won't  you come see me, Queen Jane?" ("Não queres vir me ver, Rainha Jane?"). Também lembrei (como é louca minha cabeça, né, leitor, uma verdadeira tour psicodélica-literária) do conto "O cachorro riu", de Arturo Bandini, personagem da obra "Pergunte ao pó", de John Fante - no livro, não há um fragmento sequer do conto citado em diversas passagens do romance. Lembro que alguém perguntou na Comunidade de John Fante, nos saudosos primórdios do Orkut, qual seria o conteúdo do premiado conto do melancólico Arturo Bandini. Não sei, talvez nem John Fante, autor da obra, saiba; talvez nada disso importe num romance em que o personagem-escritor Arturo vive o drama de ausência de inspirações e a mais degradante falta de dinheiro. Talvez o conteúdo do conto "O cachorro riu" não importe a nós, leitores de John Fante, mas a pergunta do distinto (e extinto) orkuteiro ficou na minha cabeça e retornou hoje, junto com Ferlinghetti, com Dylan, com Queen Jane, com a Cidade Maravilhosa, com o mendigo, com todo o movimento artístico, com a Geração beat, contigo, leitor, e comigo mesmo. 
Pois bem, depois de tanta viagem pelas estradas curvilíneas de meus pensamentos, vamos ao poema beat-dylanesco-a-la-John-Fante, inspirado em "Um parque de diversões em minha cabeça". Se acharem o quarto de meus pensamentos um tanto desarrumado, me perdoem a bagunça, sou assim meio espalhado, fragmentado em meus inteiros:

Maravilhosa Jane 
(ou A triste história do cachorro que me sorriu)

Hoje, Maravilhosa Jane,
agorinha mesmo, um cachorro me sorriu
e você não viu...
Passou sem olhar pra terra,
sem olhar pro chão,
a admirar o céu
com suas estrelas de ilusão.
Oh, Maravilhosa Jane,
você não me viu,
nem viu o cachorro que me sorriu;
por isso, não percebeu
que o cachorro se chamava Amor
e que o cachorro agora se chama Eu.
E ele é horrendo, Maravilhosa Jane!
Com suas patas sujas
pela poluição permanente
de nossas calçadas,
com seus olhos carentes
sem dono, sem casa,
com seus latidos gemidos,
com seu vira-latas sorriso
que você não viu...
Agorinha mesmo, Maravilhosa Jane,
o cachorro amor mancou
um sentimento atropelado
pra você
e você não viu,
não quis saber,
pisou na pata dele
sem perceber
e ele agora é somente
o cachorro que me sorriu,
o cachorro Eu
a ganir pela metrópole inexistência
de um oi seu, ao menos um adeus...
Maravilhosa Jane, você não viu
o triste cachorro que me sorriu,
foi agorinha mesmo,
você nem percebeu...      

Solidões compartilhadas: Um lago de lamentos de Bruna Heloísa

Bruna Heloísa, a jovem poeta
que sabe mais de natureza
que muito político sacana
eleito por aí
Numa época em que os nossos parlamentares votam o Novo Código Florestal brasileiro, em favorecimento ao progresso econômico nacional de um país com fanatismo pela posição de rico emergente, pela corrupção generalizada e pelo favorecimento de interesses de uma minoria latifundiária, em detrimento ao equilíbrio ecológico mundial, como não tenho direito de voto ou veto, só me resta compartilhar com a jovem poetamiga e ex-aluna Bruna Heloisa Ferreira da Silva minhas dores de ver nossa natureza atropelada pelo crescimento desproporcional e pelo desprezo aos nossos bens naturais.  
Durante uma aula-passeio pelos espaços turísticos de Teresópolis/RJ, em 2009, visitamos o lago citado, confiando nas indicações de pessoas que já haviam estado lá e pelas informações contidas nos próprios sites de turismo da cidade. Mas o que encontramos foram poços de ausências e desrespeito; para nossa surpresa, o histórico lago Iacy era apenas um espaço turístico fantasma, cercado de mato, lixo de residências vizinhas e um  pequeno córrego, que quase seco, resistia, imundo, no canto direito do lugar.
Como o lago Iacy era exibido em sites de turismo e pela própria Secretaria de Turismo em 2009.
Como o encontramos em 2009
 Aluna agitadíssima e sensibilíssima, dona de uma crítica feroz, Bruna Heloísa, no dia seguinte, durante a aula, me produziu o excelente poema abaixo, uma lamentação poética, quase uma elegia, ao quase extinto lago Iacy (parece que, no final do ano passado, 2011, foram iniciadas as obras de recuperação), em Teresópolis/RJ. Pra pensarmos bem aonde esse tal de progresso está nos levando:
    

O lago Iacy

Lago Iacy, lamento mas não te vi
Quando cheguei ali me surpreendi
De lago Iacy não tem nada aí.

Quando estávamos indo ao lago Iacy
Disseram que eu iria me surpreender
Quando cheguei lá me surpreendi
Pois não era o que eu ouvi.

Iacy, eu não te vi...

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Poema iron-maníaco: A ousadia de Ícaro nas asas de um novo "The Trooper"

Hoje posto um poema em homenagem ao álbum "Piece of mind", da banda inglesa de heavy metal Iron Maiden, que produzi a pedido de Paulo Rodrigues, escrito entre a paz do espírito e a mais completa lobotomia do ser (esse comentário é uma brincadeira que faço com o jogo de palavras explorado pelo grupo no título do álbum - "Piece of mind" significa "Pedaço de mente" [por isso, a capa do disco traz a ilustração de Eddie, o mascote da banda, pós-lobotomia] e é um trocadilho com "Peace of mind", que significa "Paz de espírito").
Quando Paulo me solicitou um poema-tributo ao Iron Maiden, relembrei de minha juventude: eu era extremamente ligado ao punk e ao grunge e tais tendências me influenciavam a zoar com todo o ritual apaixonado de idolatria às bandas heavy adoradas por metaleiros como um de meus grandes amigos, Guinho. Gostava de zoar com o estilo de apresentação do Iron Maiden só pra irritar meu amigo; então ele me dissertava sobre a superioridade da banda e do estilo dela sobre nós, pobres mortais, seus olhos brilhavam tanto que eu silenciava meu escárnio e acabava participando de sua idolatria alucinada. Foi com esse meu radical amigo metaleiro que aprendi a respeitar e a gostar do estilo heavy metal do Iron Maiden - "autêntico, fruto dos deuses do metal, obras-primas cantadas pelo vocalista Mestre dos Mestres Bruce Dickinson, não é igual a esse monte de b... que aparece hoje em dia por aí", diria o Guinho - e, por ele e por Paulo Rodrigues, que acabei me dedicando arduamente à produção desse poema-tributo.
Para produzir um poema ao álbum "Piece of Mind", me baseei na base rítmica do single-maior do álbum, a excelentíssima canção "The Trooper", idolatrada por todo metaleiro que se preza. Porém, se a canção original, inspirada num poema de Lord Tennyson, traz como eu lírico um cavaleiro britânico que, sem esperanças, atira-se contra as linhas inimigas russas, numa das batalhas da Guerra da Criméia, em 1854, o conteúdo da minha (sub)versão inspira-se no tema do outro single do álbum "Piece of Mind", "Flight of Icarus", inspirado na lenda de Ícaro, personagem da mitologia grega conhecido pela sua tentativa frustrada de voar (ao tentar, ele se aproxima muito do sol, cai e morre). A lenda de Ícaro, tema da canção "Flight of Icarus", ficou popular entre nós, pois simboliza o sonho humano de sempre superar os seus limites, sonho este que se mostra extremamente sedutor e, ao mesmo tempo, perigosamente fatal. 
Pois bem: misturei o ritmo de "The Trooper", a coragem do eu lírico da canção citada em atirar-se contra o inimigo, mesmo sabendo da infalível derrota nessa empreitada somada à lenda de Ícaro, citada em "Flight of Icarus", com um eu lírico que admira a ousadia do homem que ousa desafiar o sol e voar além dos limites que o céu e a terra nos dispõem. Quanto ao trocadilho, feito no título do álbum e só possível na língua inglesa, refiz no título de meu poema com a palavra "alado" e a expressão "ao lado". Não é a mesma coisa, mas tentei respeitar a arte altamente conceitual que marca o álbum "Piece of Mind".
O processo de produção do tributo poético ao álbum "Piece of mind", que inaugura uma fase mais conceitual e madura da banda Iron Maiden, foi árduo, até porque sei como os fãs da "melhor banda de heavy metal de todos os tempos" (sim, o Guinho, com certeza, diria isso, sem a mínima hesitação na afirmação) são exigentes com qualquer arte feita inspirada no grupo. Espero que tenha conseguido pelo menos o dedo mindinho de aprovação dos leitores iron-maníacos: 


Cavaleiro alado 
(Ou Ícaro a[o meu]lado)

Mais uma vez queres matar tua vontade do azul
E logo feres tuas vestes contra o sol, estás nu,
Soldado alado lutando contra o vazio que te arde,
O sol te fere e as tuas asas de cera novamente derretem.

Agora eu vejo o teu corpo mais uma vez cair 
Mesmo ferido, tu insistes em me sorrir
E o teu ser queimado pelo próprio blefe
Vive com a morte um fantástico flerte.

Vooooooooou!
Vooooooooou!

Mais uma vez investes na loucura sã
E insistes nessas tuas lutas vãs
Então pensas que vences o pérfido sol
És pequeno; para o grande astro, és apenas pó. 

Mas tua vontade mostra-te enorme
E, mesmo vencedor, o sol se comove
E mais uma vez te vejo me sorrir
Insistes em voar, mesmo estando a cair.

Vooooooooou!
Vooooooooou!

Queres o céu doce mesmo que o sol te mate
Permaneces na luta, em teu íntimo combate,
Como um tigre contra o infalível caçador
Em salto livre sobre o próprio horror.

E ainda vejo o teu semblante brilhar
Numa luz que nenhum sol pode alcançar
Seguindo tua própria lei e teu próprio amor
Fazendo tudo pra superar a tua própria dor.

Vooooooooou!
Vooooooooou!



    

terça-feira, 24 de abril de 2012

Sarau Solidões Coletivas In Bar (e agora também In video!)



Esse é o vídeo do Sarau Solidões Coletivas in Bar, que foi realizado no dia 21 de abril, no Open Bar, em Benfica, bairro de Valença/RJ, comemorando o retorno e os 7 anos do jornal Valença em Questão, quase 12 anos do lançamento de meu primeiro livro ("Fim do fim do mundo", em Junho de 1997) e quase um ano do blog "Diários de solidões coletivas".
O evento contou comigo e a participação dos poetas Juliana Guida Maia, Jaqueline Cristina, Érick Ramos, Gilson Gabriel e Giovanni Nogueira e do cantor, compositor e músico Zé Ricardo, o "Novo Plebe". Participação especialíssima do novato declamador e, ao mesmo tempo, já experiente comediante de boteco Ronaldo Brechane.
Outras curiosidades do vídeo: foi a primeira vez que declamei completamente barbado, uma homenagem sutil aos guerreiros [quase guerrilheiros pacíficos] marxistas (que, como no filme “A culpa é do Fidel”, são vistos de forma deturpada pelas informações truncadas que a menina protagonista do filme recebe, como homens barbados e maus), hoje perdidos (e mesmo assim resistindo!) na falta de utopia, de bar em bar pelo caos. Usei a camisa da banda Lobotomia em homenagem ao punk brasileiro, atualmente em situação parecida à dos guerreiros marxistas. O evento também marcou a primeira declamação ao vivo de Jaqueline Cristina e Érick Ramos. Grande parte do sarau foi temática, dedicada a Kurt Cobain e a busca da manutenção da chama perdida: o fogo da revolução cultural não pode apagar, amigos leitores!    

Solidões Compartilhadas: As mil faces de Nana B. Poetisa


Hoje compartilho minhas solidões poéticas com a poetamiga carioca Nana B. Poetisa, escritora de extremo e intenso talento que conheci em minhas andanças internéticas pelas redes sociais virtuais. É autora de diversos blogs, cada um com uma faceta diferente da mesma poeta (aqui envio o link de dois deles: “O Covil da Deusa Vampira” [http://covildadeusavampira.blogspot.com.br/] e “Literatura...Minha Vida!®” [http://nanabpoetisa.blogspot.com.br/]), já publicou diversos livros e participa de várias antologias. 
Guerreira, Valquíria, Samurai, Mocinha, Vampira, Bailarina, Artesã... Nana B. apresenta ao leitor mil faces de uma mesma mulher. Para compartilhar minha solidões poéticas com uma artista tão múltipla, trago aos leitores duas faces dessa grande poeta: a Deusa Vampira, com o sombrio e sensual poema “Viúva Negra”, e a Samurai, com o “Poem trailer - Eiyo...Honra & Sagrada Guerreira Samurai”.  Bem-vindos, amigos leitores, ao universo múltiplo e infinito de Nana B. Poetisa:   

Viúva Negra

Bela noite se eleva nos céus, de prateado luar,
a enriquecer o brilho fulgurante dos astros.

A coadjuvar minha beleza eterna, o  sabor do proibido nos teus olhos assustados e sedentos, me atraem sobremaneira.

Venha, deite no meu regaço morno e perfumado, meu  adorado mortal.
Não tema o amanhã. Pois, esta noite pertences a mim.

Sinta minha pele aveludada roçando a tua, o sabor de meus lábios entontecendo teus sentidos.

Em meu leito de negras e etéreas cortinas, dádivas de Afrodite renderei a ti, cobrindo-te de regalos luxuriosos.

Vou chegar tão perto, que vais sentir meu perfume penetrando em sua alma.

Tão perto, que o calor do meu corpo fará ferver o teu sangue!

Renega teu passado que assombrava teus dias,
perdido na solidão do desamor e do nada ser.

Entrega-te em meu seio imortal, deixe a razão para trás...
mergulhe no lago negro de doces venturas, que meu ventre te oferece.

Adormeça.



segunda-feira, 23 de abril de 2012

Voltando pra casa da poesia com passos de bêbado: Delápracá


Após um breve desaparecimento, devido a saraus e festivais, retorno com um “museu de novidades” no blog. Feriado prolongado (para os cidadãos do Estado do Rio de Janeiro), pra quem me pergunta o que tenho feito, respondo com uma poesia antiga (sim, meu lirismo bêbado – definição dada por minha mãe, quando lia alguns de meus poemas [“só sabe falar de bebida, meu filho; mesmo quando não fala, parece que ta embriagado!”] tem andado sóbrio, meu eu lírico cai 50 por cento menos do que caía antes, mas muitos versos meus ainda seguem os mesmos passos bêbados de antigamente), do meu terceiro livro "Note or not ser" (2001): tenho andado delápracá, de bar em bar, à procura de algum sonho perdido que o mundo não nos deixa sonhar...

Delápracá

Eu ainda não encontrei o meu lugar
Ando o tempo todo delápracá
As portas que entro são as mesmas que saio.
Como um nômade, não tenho casa
E muito menos um armário
Pra guardar o que não tive
Pra guardar você...
Delápracá – de bar em bar
Só o álcool ilude minha ilusão
De que posso esquecer que entreguei o coração
E não tive devolução.

sábado, 21 de abril de 2012

Solidões Coletivas in Bar: O primeiro engradado


Em homenagem ao Sarau Solidões Coletivas in Bar, cuja primeira edição realizaremos hoje, dia 21 de abril, no Open Bar (ex-Bar do Juquinha), às 17 h, no bairro Benfica, em Valença/RJ, posto hoje a primeira de três partes do poema “Alcoólatra”, a ser publicado em meu próximo livro “Foda-se e outras palavras poéticas”, que, possivelmente, será publicado ainda neste ano. No dia de inconfidências frustradas, enforcamos nossas ilusões com álcool e lirismo:

Primeiro engradado
Prelúdio de embriaguez
(Rimo festivo)

Uma dose a mais
Para mais um coração vazio...
Uma bebida gelada
Para me aquecer do frio...
Bobo demais, bebo demais
Sorrindo sozinho...
Nessa noite enluarada
Abraçado à garrafa desse estranho vinho...
Ilusão fermentada
Em doses cavalares para mim - do mato, um bicho...
Incapaz de palavras sensatas
Anestesiado, sou poeta que não finjo...
Mais uma farsa inexata
Sou fortaleza armada que só me atinjo...
Uma dose a mais
Para mais um tolo capricho...
Uma festa insensata
Para um folião deprimido...

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Um poema escrito sob (e sobre) o signo de Áries

Hoje é um dia especial! Não, não me refiro a nenhuma data comemorativa nacional. Hoje o blog comemora o aniversário da cantoramiga Cíbila Farani e, em homenagem a esse momento especial, posto um poema que fiz para ela há tempos atrás, quando esta ariana iniciava sua brilhante carreira de cantora. Um poema dedicado a todas que nasceram sob o signo de Áries, segundo o horóscopo, meu inferno astral (sou taurino), mas, segundo o lirismo astrológico,  um paraíso de impulsividades, fogo e arte:


Para uma ariana

Tua impulsividade, às vezes tão passiva
passeia sobre minha mente e tantas coisas vêm
nas guitarras emocionais de meu coração grunge
sem rotas, propostas ou pretensões
apenas querendo o que não sei
como um skate em alta velocidade
tentando vencer a limitação da gravidade,
como uma apaixonite aguda soando grave.
Sinto teu fogo de áries, com ares de tentação
abrindo a porta de minha Pandora,
colorindo de vermelho o azul da minha paz.
A lua crescente de teus movimentos felinos
causam confusão em minha madrugada tardia
enrouquecendo os sonhos de minha almofada tranquila
como a voz de Billie Holliday numa canção de jazz
jaz aqui um coração entediado!
Com um giz de cera sem vida, eu ressuscito
os contornos de tua cintura em tua calça boca de sino...
O amor e ódio badalam
entre a coca-cola de teus rancores
e o refresco de teu raro silêncio,
entre o sabor imaginário de teus lábios
e a imensa melancia de tuas alegrias...
Estás em meu peito, em meus olhos, em meu tudo
És nada que a realidade me diz,
a matrix que eu sempre quis,
és mulher de áries, com ares de sedução!


quinta-feira, 19 de abril de 2012

Túnel do tempo: Solidões Coletivas in Rio (das Flores)


Nos preparativos para o Sarau Solidões Coletivas in Bar, sábado, 21 de abril, às 17 horas, no Open Bar (ex-Bar do Juquinha), em Valença/RJ, comemorando os 7 anos do Valença em Questão, quase 15 anos do lançamento de meu primeiro livro ("Fim do fim do mundo", em Junho de 1997) e quase um ano do blog "Diários de solidões coletivas... O fato me trouxe à memória outros grandes eventos que o Diário de Solidões Coletivas esteve envolvido, como o Sarau Solidões Coletivas in Roça e in Praia, que já divulguei no blog (entrem no marcador Poema – Ao vivo que encontrarão todos os registros de vídeo), entre outros tantos.
Hoje viajo no túnel do tempo e trago o vídeo abaixo pra relembrar da Noite de autógrafos do livro "Diários de Solidão", no Centro Cultural Professor Antonio Pacheco, em Rio das Flores, no dia 6 de maio de 2011, véspera do meu 32.º aniversário de (sobre) vivência (ou 32 anos de persistente existência, a expressão fica a gosto do leitor). O evento teve a participação de Ronaldo Brechane, Juliana Guida Maia, Grupo Teatral Arte-Ofício, Leticia Correia, Elayne Amorim, Fael Campos, Luan Barros, Zé Ricardo e Giovanni Nogueira e, mais uma vez, apesar do público pequeno, mostramos a arte de Valença e região com o Projeto Poesia e Prosa Itinerante.


terça-feira, 17 de abril de 2012

Poema camponês massacrado na falta de terra e de lirismo

Hoje, dia 17 de abril, comemoramos o Dia Internacional da Luta Camponesa, ao mesmo tempo que lamentamos o aniversário de 16 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, que deixou dezenove sem-terras mortos e vários fazendeiros, ilustres senhores da terra inculta, impunes pelo planejamento de tal crime. Desde os primórdios dos tempos, os camponeses, os sem-terra lutam por um espaço nos campos dos poderosos e autoritários latifundiários; há tempos, luta-se por uma reforma agrária, por uma divisão justa de terras, porém tal reforma é tão pouco lembrada, é tão injusta, quanto o veredicto dado ao Massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 1996; como diria Renato Russo, os assassinos estão livres, nós não estamos... Pra jamais esquecer, pra um dia realmente poder comemorar o Dia Internacional da Luta Camponesa deixo aos leitores um poema, escrito 10 anos depois do Massacre de Eldorado dos Carajás (a impunidade neste crime estimulou diversos poderosos a cometerem outros massacres a sem-terras que ousavam cultivar em campos férteis da pátria amada [e, dependendo da sua posição social, nem sempre amante] Brasil) e inserido às pressas em meu quinto livro "Eu e outras províncias" (2008):

Relatório alienígena sobre os sem-terras brasilis

Eles nascem na Terra, aquele estranho planeta
repleto de seres que não conseguem ser
alguém. Estranhas formas de vida
esses seres não-seres,
esses ninguéns são eles,
sem-terras brasilis.
Crescem na esterilidade da injustiça agrária
e, quanto mais as terras da Terra se estendem,
mais eles se comprimem e se multiplicam
feito fantasmas.
Fantásticos espécimes,
eles habitam a Terra-Ideia, a Terra Ideal,
enquanto caminham pela terra-impossível,
a terra-excesso de poucos-donos,
a terra-negação.
Com suas enxadas invisíveis,
eles aram os morros da imaginação,
colhendo fritas de ventos, verduras de sonhos,
legumes de ausências,
enquanto a terra cresce majestosa, indiferente;
a terra da falta, a Terra que falta,
a terra enterra a Terra dessa espécie misteriosa.
Então eles morrem,
viajam para outro mundo mais justo,
segundo os mitos da tribo,
mas - irônica vitória - seus corpos moribundos
fertilizam o solo brasileiro abandonado.
Finalmente eles possuem a terra negada. 



 

Solidões compartilhadas: Os beijos loucos de Paulo Ras


A solidão poética que compartilho hoje mais uma vez com o poeta curitibano Paulo Ras está um pouco atrasada. Recebi esse poema há certo tempo atrás e havia planejado publicá-lo no dia 13 de abril, o Dia Internacional do Beijo. Porém a semana que antecedeu tal data comemorativa me trouxe uma pancada de compromissos e, assim, o blog ficou, naquela sexta-feira fatídica, sem beijo, nem poesia... 
Lamentando muito o atraso, publico agora o sublime e quintanesco poema de Paulo Ras, como um beijo fora de hora, daqueles que nos pegam de surpresa e nos entrelaçam uns aos outros, enlouquecidamente, liricamente unidos; um beijo sem data, que provoca o sorriso dos lábios perdidamente molhados, entrelaçando sonhos na esquina dos sonhos e da perdição:

A tua língua
A minha boca.
Ou a tua boca e
A minha língua?
Tudo tão entrelaçado.
Tudo tão promíscuo em nossos corpos.
Tudo tão perdido em nossas vidas.
Tão emaranhado.
Tão confuso.
Tão uno que ao menos sabemos
De quem é a língua.
De quem é a boca.

domingo, 15 de abril de 2012

Ensaio sobre a cegueira do amor


Há uns dias atrás, me deparei com um pensamento da escritora Lainha Rosendo Loiola, autora do blog “Uns dias”, postado no facebook:
“Se o amor é cego, como poderia acontecer à primeira vista? Pois é.” 
(Lainha Rosendo Loiola)
Tal pensamento, em meio ao marasmo vitual no qual me via inserido, me fez pensar, fato raro numa rede social virtual que muitas esmera a frivolidade total (me adiciono entre os estimuladores da frivolidade; sou cúmplice da estupidez humana; como na canção “Perfeição”, de Legião Urbana, todos temos um lado estúpido). O amor tem dessas contradições, é um não pensar que nos faz pensar demais; os escritos de Lainha têm esse dom, deixar-nos sutilmente absortos com um estranho sorriso no rosto, perplexos com nossas próprias sensações, reflexivos, liricamente reflexivos (quem duvida do talento dessa escritora, deveria conferir, com os próprios olhos, o blog dela; aí vai o link: http://unsdiasporlainha.blogspot.com.br/).
Não resisti e acabei comentando sobre o pensamento dela, no facebook:
“É visível a cegueira do amor, por isso que à primeira vista nos cegamos tanto com ele e pensamos que ele acontece tão de repente (Se bem que confesso achá-lo míope; não cego rs).”
Depois, ao reler meu comentário, percebi o quanto é belamente cego e sem sentido o sentimento que denominamos amor. Como versejou Camões, “Mas como causar pode seu favor / Nos corações humanos amizade; / Se tão contrário a si é o mesmo amor?” Não sei, Camões, só sei que amo e, desse tal de amor, me surgiu esse poema abaixo, inspirado nos paradoxos de Camões, na estupidez lírica de Renato Russo, no pensamento sublime de Lainha Rosendo Loiola e na beleza intensa de Juliana Guida Maia (que, como J. Pinto Fernandes no poema “Quadrilha”, de Drummond, ainda não tinha entrado no meu comentário, mas torna-se a musa maior do poema abaixo):

Ensaio sobre a cegueira do amor

Me disseram: “O amor é cego”
E eu, sempre cético, duvidei.
Então apareceste
E, à tua primeira vista, ceguei!

Putz... por que não acreditei?

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