sexta-feira, 29 de junho de 2012

Poesia bêbada pra refletir sobre a vida

Inspirado no evento do qual participarei amanhã (o Identidade Cultural & Movimento Culturista, cujo tema é a cachaça, bebida representante nacional de nosso sentimento brasileiro de embriaguez), posto hoje o poema "Poesia bêbada", de meu terceiro livro "Note or not ser" (2001), que, como bem observou minha mãe na época, reflete "essa poesia embriagada e sem vergonha" que trago em minhas obras. A carapuça serviu para os meus eus líricos, sempre entre a folia da embriaguez e a mais derradeira ressaca. Então que assim seja; me desfaço dos meros brindes e comemoro com um porre de poesia!


Poesia bêbada

Me olho no espelho
e, aflito, reflito: "como sou feio!"
Mas não é pra tanto,
pelo menos o espelho está inteiro.
Poderia ser pior...
afinal a vida não é só luz e boêmia;
ela também é escuridão e rotina.
A vida é uma poesia bêbada!
As linhas são tortas
e as condições de beleza
de seus versos
são livres!

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Maluca lucidez: Um tolo de ouro para o ouro de tolo

Hoje, às oito horas da manhã, Raul Seixas faria 67 anos. Conhecido como maluco beleza, apelidado de "contestador e místico", o roqueiro baiano nunca foi muito levado a sério em suas críticas à sociedade ditatorial e pós-ditatorial (o que não significa uma sociedade mais livre, e sim uma sociedade que ainda traz ranços de seu antigo regime). Quase sempre, quando a mídia lembra de Raul Seixas, revemos sucessos como "Maluco Beleza", "Al Capone", "Sociedade Alternativa", etc. São raros os noticiários que relembram do Raul Seixas mais revoltado, com sua séria e sagaz "Ouro de Tolo", música de conteúdo quase autobiográfico, mas que debocha da Ditadura e do suposto "Milagre Econômico". São raros os que não imaginam Raul apenas como um cara meio louco, que não deve ser levado muito a sério. E assim permanecemos "no trono de um apartamento, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar" (acrescente aí um notebook e internet gratuita ou paga em suaves prestações e a letra nos retorna ainda mais cruel e contemporânea). Vivemos como há 10 mil anos atrás e ainda achamos que maluco era o Raul, morto após uma grande dose de bebidas alcoólicas e poucos cuidados com a diabete que o tolhia. O disco voador buscou Raul; tirou-o desse mundo louco, elevou o poeta louco às galáxias da lucidez, enquanto permanecemos aqui estagnados, cada vez mais baixos, descendo, descendo até o chão. E Raulzito, antes de partir, avisou-nos da ridícula condição e submissão humana diante de tanto ouro de tolo, diante de tanto consumismo, tantos milagres econômicos, tanta estupidez. Mas não o ouvimos; é mais confortável rotular o lúcido de louco e interná-lo em nossa própria insensatez. Em homenagem aos malucos belezas de letras lúcidas feias, posto a minha (sub)versão ao Ouro de Tolo de Raul Seixas: 


Tolo de ouro


Eu devia estar no zoológico apontando o dedo médio
Para os malditos cidadãos respeitáveis
Que, com a boca cheia de carne proletária entre os dentes,
Sorriem pra mim, escondendo o horror
Por minha selvageria pacífica.
Eu devia estar acorrentado para que
Ficasse mais claro quem é o escravo e quem é o rei
E devia estar triste, insatisfeito
Por receber um salário de fome
E viver a duas horas da violência da cidade maravilhosa,
Quando, na verdade, queria mesmo era voltar pra paz sem graça da minha roça.
Eu devia censurar cada sorriso, cada gozo
Daquelas esmolas de fugaz alegria numa vida permanentemente sofrida,
Mas eu prefiro continuar sendo o mesmo canalha
Que, mesmo castigado, senta, relaxa e goza.
Eu devia ranger meus dentes, não me dar por vencido,
Ter uma grande crise, mas confesso
Acomodado que eu estou ‘fazendo o meu trabalho’,
Convivendo com as ilusões dessa insatisfação feliz
E agora eu me ignoro, rá, rá, eu só sei sorrir!
Eu tenho um monte de recados bonitos pra te postar
E eu não posso te escrever sobre coisas tristes, não quero ser bloqueado.
E, por mais que me doa sorrir, eu tenho conseguido
Mil amigos pra me curtir no alegre reformatório
Dos hipócritas antenados.
Ah, mas que sujeito hábil sou eu
Que consegue que todo mundo me ache engraçado
Palhaço, amigo, safado, boçal, ah, eu tenho milhões de fãs
E eu curto tudo isso, de mim mesmo um falsário
Quando bastava me olhar no espelho
E me sentir um grandessíssimo calhorda,
Mais um internauta fingido, autohackeado
Que só compartilha raivas populares na rede virtual
Ah, e tu ainda acreditas que sou um agitador social!
És leitor superficial que não vê que cão que muito late  
É cachorro vira-latas com medo de confronto real.  
Eu devia estar no ventilador jogando meus excrementos,
Mas só trago a revolta calada, aprisionada em meu ventre,
Esperando outro porre chegar
Pra cagar minhas verdades congestionadas
Nos banheiros sanitários sociais
E depois, na cama calada de minha ressaca, mais uma vez reviver
As cenas trágicas e escandalosas de mais um bêbado perdedor.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Solidões compartilhadas: Os traços grunges de Bruno Alessandro

Hoje compartilho minhas solidões poéticas com o jovem desenhista Bruno Alessandro, de Tabatinga/SP. Fã de AC/DC e Nirvana, o roqueiro artista é fã da frase "Grunge is not dead" (ou seja, "O grunge não está morto") e mantém a sua fidelidade a esse estilo musical em seus traços e na escolha dos modelos (Kurt Cobain, líder do Nirvana, é o favorito do artista). Apesar da pouca idade, Bruno Alessandro vem mostrando, a cada desenho, uma maturidade artística e reflexos de um mundo melhor, em que a arte, assim como o grunge, são eternos. 









domingo, 24 de junho de 2012

Solidões compartilhadas: O "natural" de Adriano Gonçalves

Hoje compartilho minhas solidões poéticas com o músico e compositor Adriano Gonçalves, de Nova Iguaçu/RJ. Apesar de morador da baixada fluminense, Adriano fez história no cenário underground musical valenciano, influenciando músicos da região como Zé Ricardo e Fábio Arieira, tanto que até hoje as composições do músico são tocadas em saraus e festivais da região sul-fluminense. Tocou na banda Dezabutinados e chegou a participar comigo do evento multicultural UniVersos Culturais de Valença, realizado no extinto Teatro Rosinha de Valença, em janeiro de 2009. Suas músicas refletem contra a opressão da sociedade preconceituosa, a favor da liberdade e sempre em prol da arte como meio da total libertação. Uma de suas letras, a que posto hoje, tornou-se uma espécie de hino de nosso Sarau Solidões Coletivas, realizado todo terceiro sábado do mês, no Open Bar, em Valença/RJ. Com vocês, o "Natural" de Adriano Gonçalves (com direito a duas versões em vídeo - uma com Fael Campos & Zé Ricardo e outra com Fábio Arieira & Zé Ricardo):


Natural

Acorrentaram minhas mãos
Como se eu fosse um animal
Sendo ou não sendo irracional
Sou criação de um mesmo deus

Não adianta vir me debulhar
Não devo nada pra ninguém
Eu não pareço com você não dá pra mim
Já chega, já chegou ao fim

Os meus amigos sempre estão
Os que não entendem nunca vêm
É coisa de irmão para irmão
É natural pra mim também

Não adianta, eu não vou me calar
Você pode até ser rei
Eu não pareço com você, não dá pra mim
Já chega, já chegou ao fim

Eles podem calar minha voz
Mas não vão me impedir de pensar em nós
Se cantarmos numa só voz
A liberdade inspira arte dentro de nós






sábado, 23 de junho de 2012

As mil faces cretinas dos poetas


Junho é Mês de Fernando Pessoa, o poeta de várias faces. Hoje o blog revela as mil faces cretinas dos poetas. Em tempo: Esse poema estará em meu próximo livro "Foda-se e outras palavras poéticas", a ser publicado ainda neste ano, e hoje o "Brinde à Poesia", sarau organizado por Lucilia Dowslley, em Niterói, tem como temática o poeta português (Juliana Guida Maia e eu estaremos lá, declamando outro poema pessoano meu chamado "Contando os pingos", já publicado aqui no blog):


Poetas


Se te falo de Deus com tamanha simpatia
É pra te esconder minha descrença na terra,
nos seres humanos, nas mazelas da vida.
Ter Deus, possuir o enigma divino nas mãos,
ocultar limitações, a carne restrita
é o demônio ideológico poético
desse artista patético: chegar aos céus
pra cuspir a efemeridade corporal
e cretina. Ser Deus é uma ambição minha.
Poetas não são anjos, ó musa santíssima.

Se te canto o Amor platônico com pudor
é pra te esconder o furor, a ousadia
de rasgar tuas roupas, rasgar-te em carícias.
Gastei meu corpo num prostíbulo vizinho
ao teu castelo de muros altos e flores
a desabrochar. Minha alma pede descanso,
preciso de fôlego pra recomeçar.
Se me ponho a teus pés, tento teu coração,
é porque almejo teus seios, minha querida.
Poetas não são puros, musa repentina.

Se te falo de mim com tórridas verdades
é porque nada sou eu, é tudo mentira,
palavras, máscaras cínicas – poesia!
Falar de mim, descrever minhas cicatrizes
é esconder-me de ti, abrir cortes ausentes.
Que belo personagem fiz comigo mesmo!
Tão eu que nem me reconheço! Então maltrato-o,
Desfaço-me numa construção destrutiva
de um eu aparente, de uma luta perdida.
Poetas não são claros, musa subjetiva.

E, finalmente, se não te falo de nada
é pra te esconder o cansaço, novas farsas.
Fica assim a página em branco, virginal
porque a palavra é o noivo patriarca
à espera da aliança, da noite escura,
das núpcias; é o mito, o estupro, corrupção.
Deixa o silêncio ágrafo, o nada legítimo
tocar tua visão, envolver-te em pureza,
mas cuidado: o vazio é minha farsa-prima.
Poetas são vários nadas, musa esquecida.


sexta-feira, 22 de junho de 2012

Solidões Compartilhadas: Ingrid Schuenck nos diz o que é triste ouvir

Hoje compartilho minhas solidões com mais uma talentosa escritora da E. M. Alcino Francisco da Silva, a poeta ultrarromântica Ingrid Schuenck Xavier. Aluna do 9.º ano, Ingrid optou pela escrita poética para exorcizar o inferno de amar e não ser correspondida. 

Inspirada em "Someone like you", música da cantora britânica Adele, trabalhada na sala de aula pelo professor poeta pateta que vos fala, Ingrid nos revela as tristezas e esperança de quem ama e não é correspondida:




É triste ouvir
que a pessoa que você ama
encontrou um alguém
para estar ao lado dela
longe de você...
Ao seu lado, uma garota
que teve a oportunidade de fazer
o que eu não fiz.

Prefiro me esconder do mundo;
a timidez não deixa eu olhar mais para você
(Mesmo assim, tenho esperança
de que você volte pra mim...)

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Rock Poema: Balas negras para o clássico "Black Dog"


Hoje é aniversário do músico amigo Felipe Martins, guitarrista da fodástica banda valenciana de rock'n roll Black Bullets. Em homenagem ao aniversariante, fã de Led Zeppelin, finalmente faço meu tributo à banda da qual ele faz parte. Para isso, inspirado nas preferências do amigo guitarrista, usei como base a sensualíssima "Black Dog", clássica canção da banda de rock Led Zeppelin, do quarto álbum do grupo britânico, listado entre os 200 álbuns definitivos no Rock 'N Roll Fame.

Composta por Jimmy Page, Robert Plant e John Paul Jones, eleita a 300.ª "Maior Música de Todos os Tempos", na lista da Revista Rolling Stone, seu conteúdo original traz um eu lírico seduzido por uma mulher de pernas grandes que quase o leva à destruição ( o título da canção foi em homenagem a um cachorro que ficava entrando e saindo do estúdio, enquanto o Led "Zeppelin IV" era gravado).
Em minha (sub)versão rock poética, batizada de "Balas Negras" (tradução em português ao pé da letra do nome da banda Black Bullets), mantive o teor altamente sensual da canção zeppeliana e apresento um eu lírico também seduzido por uma mulher (só que, na minha versão, os seios ganham mais destaque que as pernas grandes), que o leva a submissão pelo poder sexual que ela tem. As metáforas com a guitarra (que significaria o membro sexual do eu lírico diante da musa) e a fortaleza (que significaria o quarto do eu lírico, onde o casal se relaciona) são, respectivamente, um tributo ao instrumento musical que Felipe toca (fazer boa música, boa arte é seduzir o ouvinte, numa relação quase erótica, com possibilidades de levar o espectador - e, no caso do poema, a interativa espectadora rs - ao êxtase) e uma citação do segundo single, divulgado na net, do futuro disco autoral dos Black Bullets, a ser lançado no dia 07 de julho, às 17h, próximo à Grade da Praça da Bandeira, no centro de Valença/RJ. Se contarmos o vício do eu lírico pela garota, temos, na minha (sub) versão poética, a tríplice rock "Sexo, drogas e rock'n roll" 
Espero que o aniversariante goste do presente e que os leitores também se sintam presenteados. Deixo também pra vocês a música que inspirou essa (sub)versão rock poética, tocada pelo Led Zeppelin e, também, em versão brazuca desafinadamente executada pelo Vinny (sim, pasmem, aquele mesmo do "Mexe a cadeira" - antes e depois da fama [ou antes e depois de se vender ao mercado musical], ele já fez coisas meio - eu disse "meio" - rocks) pra todo mundo desejar que o Black Bullets faça a versão brazuca ideal da canção rs. Dedico também a todas as musas de vestidos pretos que deixam as balas negras apontadas para a felicidade dos olhos fascinados do poeta, que é enamorado e satisfeito, mas não é cego rs.


Balas negras

Ei, ei, moça linda,
Teu corpo sorri pras minhas músicas,
Meu ritmo entre tuas pernas,
Te dedico meus acordes mais crus e nus.

Oh, oh, garota,
Teu corpo dança pra mim,
Pra minha guitarra de sangue,
Pra mais um solo sem freio, sem fim, sem lei.

Hey, hey, baby,
Nesse vestido preto, teus seios são balas negras
Agora em minha fortaleza peço que tires
Quero vê-los claros apontados pra mim outra vez.

(Oh yeah, oh, yeah
Ah, ah, ah,
Oh yeah, oh, yeah,
Ah, ah, ah!)

Rock’n roll, teu calor nesse momento frio
Aquecem-me um novo acorde, um eu menos sombrio...
Minha guitarra arde e continuas a me aquecer;
Cada vez mais quente, ela ameaça derreter.

Hey, baby, oh, baby, perigo, baby,
Como solar minha guitarra quando fores embora?
Hey, baby, oh, baby, perigo, baby,
Como fica minha alma quando fores embora?

Depois de uma noite longa, preparas a dança final,
Ensaio um solo sem fim enquanto preparas um tchau fatal...
A música some, sinto tudo acabar,
Sou ídolo decadente depois de ser rockstar...
E agora me dizes o que me sobrou;
Se levas minha alma, o que me restou?

(Oh yeah, oh yeah,
Ah, ah, ah,
Oh yeah, oh yeah,
Ah, ah, ah)

E eu quero tuas balas negras outra vez
Apontadas pra eu te despir, acho que me viciei...
Tua dança tão profana que me faz tão bem,
Minha guitarra a te solar, outra noite, será que vens?




quarta-feira, 20 de junho de 2012

Sarau Solidões Coletivas In Bar 3: A segunda parte do Terceiro Engradado Poético


Conforme prometi, aí vai a segunda parte do vídeo que mostra um pouco do que rolou no Sarau “Solidões Coletivas In Bar 3: O terceiro engradado”, no dia 16 de junho, após as 17h, no Open Bar, em Valença/RJ. O evento contou com a participação de Carlos Brunno S. Barbosa, Alexandre Fonseca (Lisergio Virabossa), Zé Ricardo, Fael Campos, Juliana Guida Maia (declamando poemas próprios e de outros autores, como o curitibano Paulo Ras), Giovanni Nogueira, Jaqueline Cristina,Wagner Monteiro, Ronaldo Brechane, Érick Ramos, Gilson Gabriel, Vitor Castro, Zirley e Ana Rachel Coelho (declamando poema de Clarice Rachel Sterling).
Lembro que o Sarau Solidões Coletivas In Bar acontece todo terceiro sábado do mês, no Open Bar, em homenagem às publicações das novas edições impressas do Jornal Valença em Questão.  O Sarau Solidões Coletivas In Bar acontece todo terceiro sábado do mês, no Open Bar, em homenagem às publicações das novas edições impressas do Jornal Valença em Questão.

Solidões compartilhadas: Os poemas sem palavras de João Paulo Maia

Há artistas que não precisam de palavras para fazerem poemas de imenso lirismo. Este é o caso do sublime amigo artista plástico João Paulo Maia. Após um tempo distante de Valença/RJ (ele passou uma grande temporada na também lírica Campinas/SP), João Paulo Maia retorna à Princesinha da Serra e traz o lirismo de sua arte para a proximidade dos olhos desse poeta fascinado que vos fala.  Fã da citação "A arte satisfaz os perturbados e perturba os satisfeitos", com traços cada vez mais líricos e mais intensos, João Paulo nos apresenta sua visão poética das Solidões Coletivas. Há momentos em que os poetas, tão donos das palavras, carregam em seus textos apenas silêncios fascinados. A arte que motiva esse tipo de silêncio, tão reflexivo e sonhador, se encontra na arte inigualável dos desenhos abaixo. Em tempo: hoje é o dia do aniversário desse grande artista! Parabéns e obrigado, João Paulo Maia, meus olhos agradecem o colírico (neologismo pra colírio de lirismo, cuja fórmula poético-terapêutica só raros e grandes artistas como o desenhista citado conhecem):


 




















(Quem curtiu a arte de João Paulo Maia, aí vai um e-mail de contato 
desse fantástico artista plástico: hidrologo@hotmail.com) 







terça-feira, 19 de junho de 2012

Sarau Solidões Coletivas In Bar 3: A primeira parte do Terceiro Engradado Poético



Olá, leitores! É bom estar de volta! Peço, por favor, que entendam um pouco da minha demora: como já disse anteriormente, o blog tem alcançado um espaço real (através de diversos saraus), além do virtual, que tem tomado um pouco do meu tempo de postagens. O vídeo mostra um pouco do que rolou no Sarau “Solidões Coletivas In Bar 3: O terceiro engradado”, no dia 16 de junho, após as 17h, no Open Bar, em Valença/RJ. O evento contou com a participação de Carlos Brunno S. Barbosa, Alexandre Fonseca (Lisergio Virabossa), Zé Ricardo, Fael Campos, Juliana Guida Maia (declamando poemas próprios e de outros autores, como o curitibano Paulo Ras), Giovanni Nogueira, Jaqueline Cristina,Wagner Monteiro, Ronaldo Brechane, Érick Ramos, Gilson Gabriel, Vitor Castro, Zirley e Ana Rachel Coelho (declamando poema de Clarice Rachel Sterling).
O Sarau Solidões Coletivas In Bar acontece todo terceiro sábado do mês, no Open Bar, em homenagem às publicações das novas edições impressas do Jornal Valença em Questão.  O Sarau Solidões Coletivas In Bar acontece todo terceiro sábado do mês, no Open Bar, em homenagem às publicações das novas edições impressas do Jornal Valença em Questão.Amanhã, se minha conexão deixar (os vídeos em minha conexão carregam a passos de tartaruga; isso quando carregam! rs), posto a segunda parte do Terceiro Engradado Poético.

sábado, 16 de junho de 2012

Um jeito Delta Mood de ser (Ou um blues a me sorrir)


Ontem, a noite, no Pesqueiro do Vitinho, marcou o retorno da lendária banda valenciana de blues Delta Mood aos palcos de Valença. Cheio de participações especiais (a banda tocou com quatro guitarristas!), o blues ontem sorriu para quem os assistiu, Em homenagem a isso, aí vai minha ode ao raro blues que a banda Delta Mood trouxe aos meus ouvidos:

Um jeito Delta Mood de ser 
(Ou um blues a sorrir)

De quantas guitarras eu preciso
para fazer meu coração triste feliz?
Segundo a banda de blues de minha cidade
que ontem ouvi,
preciso de quatro guitarras sublimes
pra triste felicidade retornar em mim.
E, assim, ontem o blues sorriu pra mim;
E, assim, o que é triste agora me sorri!

Hey, garota, pare de chorar!
Ligue o som: um blues bem tocado
é melhor que olhos marejados
numa praia sem mar.
As lágrimas ficam mais felizes
quando há várias guitarras a solar
a dor inevitável que nos faz par.

Então imagine, garota dor que me insiste,
quatro guitarras em riste
te sorrindo em acordes tristes.
Hey, menina dor que resiste, não há motivos infelizes,
depois que as guitarras, felizes,começam a chorar!

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Solidões compartilhadas: O riscoísmo de Alexandre Lisérgio Virabossa Fonseca

Lisérgio Virabossa, o 5.º beatle
Hoje compartilho minhas solidões poéticas com o renomado poeta Lisérgio Virabossa, heterônimo (espécie de 'fake' sublimamente artístico) do escritor historiador beatlemaníaco valenciano Alexandre Fonseca. 
Extremamente talentoso e sagaz, Alexandre Fonseca "Lisérgio Virabossa" é devoto de Shiva (quando não  incorpora o próprio deus hindu em Pessoa rs) e adora derramar uma boa dose de niilismo em chás da tarde no facebook (se você, por curiosidade, procurar a descrição no perfil do talentoso escritor encontrará a autodefinição mais marcante de todas que já leu: NADA (isso mesmo; numa época em que todos são alguma coisa de tudo, ele se define como Nada; quer mais totalidade que isso?). Em tempo: o poeta Lisérgio Virabossa participará do próximo "Sarau Solidões Coletivas in Bar Volume 3: O terceiro engradado - quando ninguém mais sabe quem realmente é", a ser realizado neste sábado, dia 16, às 17h, no Open Bar, em Valença/RJ. Deixemos de falácias e vamos ao riscoísmo do ilustre Virabossa (reparem que o próprio Alexandre Fonseca coloca aspas nos poemas escritos por sua persona lírica):


RISCOÍSMO

"Risco
Sobre a tabula rasa uma linha que desejo reta e contínua ao infinito dos multiversos edênicos

Rabisco
O mapa imaginário da vida que planejo altiva e inatingível feito o vôo alpínico do jovem pterodáctilo

Arisco
O lápis escapa da mão trêmula e traça desenhos erráticos de quanta em desvarios entrópicos

Pisco
Os olhos para o perigo sorrateiro que me observa ao longe sob óculos escuros de espiões do cinema

Chapisco
Versículos de areia em bíblias de paredes argilosas que a implacável musa da história um dia apagará

Arrisco
Penetrar as chamas que incendeiam as poltronas mais confortáveis das mansões burguesas

Prisco
É o tempo das memórias saudosistas de impérios morais e materiais carcomidos por escaravelhos sorridentes

Belisco
Os pés da revolução que haverá de tornar homens em deuses e deuses em árvores cheias de frutas vermelhas proibidas

Trisco
Posto que triscar intransitivo é semear desordem e transitivo é roçar os dedos no violão ou nos seios da amante

Cisco
As verdades do chão qual galo de briga que ignora o rival e ataca o senhor pois sabe que se há vida

Há risco"

quarta-feira, 13 de junho de 2012

A prolixidade em Pessoa: Meu "Diários de Solidão"

Hoje faz 124 anos de nascimento de Fernando Pessoa, um dos maiores poetas da nossa língua portuguesa, e falta um mês para que o blog faça seu primeiro ano de vida. Em homenagem a isso, finalmente posto o conto de máscaras que gerou o nome de meu sexto livro "Diários de Solidão", publicado em 2010, e, consequentemente, influenciou o nome desse blog (o poema que realmente gerou o nome do blog, ainda inédito em livros, só será publicado daqui a um mês). Eis o conto "Diários de solidão", um conto de várias faces em um só escritor:


Diários de Solidão

Rio, algum dia sem risos de agosto, talvez domingo.

            Um, dois, três passos e chego no palco. Luzes, muitas luzes (vermelhas, brancas, verdes, um etc de brilho e calor). Vozes, muitas vozes. Ouço meu nome nos quatro cantos do salão. Ecos, ecos: “Fabiano! Fabiano!” Sou eu, sou eu, meus pensamentos respondem ao público em minha cabeça. Me aproximo do microfone. Os corpos se agitam, os corpos sem rostos – pelo menos, não os distingo – esperam que eu cante, que eu fale, que eu... sei lá! E por não saber, nada digo.
            Então o salão escurece. Silêncio. Estou de volta à cama, ao quarto, a minha casa vazia. Preciso de um manual de etiquetas para os sonhos – saber como me portar para que eles durem mais. A escuridão do quarto... Na verdade, preciso de um emprego. Se eu pagasse a conta de luz, pelo menos o quarto ficaria menos sombrio. Preciso de um Q. I. – alguém Que me Indique, preciso de companhia para entrar naquela Companhia de Seguros.
            Inseguro, foi assim que o contratador me (des)qualificou durante a entrevista. Convidei-o para conversar melhor lá fora, quem sabe um choppinho depois do expediente? Eu ainda tinha uns trocados, estava desesperado, precisava do emprego, jogava minhas últimas moedas. Saiu tudo assim, sem querer, sem eu querer. Ele me entendeu mal, disse que era casado. “Bem casado e feliz com a MULHER que tenho”, ele destacou. “Faça a barba, adquira um porte mais apresentável, tome um chá, respire fundo, quem sabe da próxima vez?”, sua compaixão não compreendia meu desespero. Minha casa está às escuras, como posso me olhar no espelho? Não, não lhe disse, mas pensei – seria a ridicularização final dizer. Até porque dizer é uma prática incomum para mim, para esta vida encerrada numa casa vazia. Vazia não; melhor (ou pior... sei lá!), cheia de ausências. Ausências... Será que preencheram aquela vaga na companhia? Falo muito para dentro e estou cansado disso.
            Desses parágrafos, desses espaços, estou cansado; falar para dentro me deixou melodramático. Não sei quando sou brusco ou quando me estendo. Fica assim registrado meu desproporcional descontentamento. Está me ouvindo? Não, ninguém me ouve. E por isso escrevo. Talvez algumas palavras não acompanhem as linhas do diário, está escuro, já disse, não posso ser linear se não posso ver. Some isso  à irregularidade do texto e vai me conhecer: Fabiano, nordestino, tentando uma vida melhor na Cidade Maravilhosa. Não, não tenho nada a ver com a obra-prima de Graciliano Ramos. Sou o oposto, a prolixidade em Pessoa. Não, o personagem de Vidas Secas, diferente de mim, era analfabeto e muito menos infeliz. E aqui chove pra caramba, quem me dera ter ignorância para não entender porque estou aqui numa casa vazia, sem luz, enquanto o poste da esquina ilumina a calçada que nem vida tem. Talvez eu seja como a calçada, uma coisa... sei lá! Sei que o quarto é escuro, que mal consigo escrever, que até minha escrita mudou, meu sotaque acabou, eu mudei, de Ceará para o Rio, de sete irmãos sem perspectivas para sozinho num futuro sombrio, de homem para coisa; preciso de um  emprego, uma companhia de seguros, a companhia de um amigo, a segurança de um amigo. O escuro aumenta cada vez que me repito, preciso de vozes, carinhos. Melodramático, ridículo, prolixo: eis-me aqui sozinho.
            Talvez devesse voltar para o Nordeste, para minha verdadeira casa... sei lá!


Rio, agosto frio em meu desgosto, domingo

            Ele vem com passos firmes. Barbado, maltrapilho. Meio homem, meio bicho. Furioso, sensual. Arromba a porta de meu quarto, me invade. Trêmulo, pergunto: “como ousa?” Ele me agride: “CALE A BOCA!” Me beija. Lábios doces, minha boca arde em profundo contentamento. “Sou tua mulher!”, as palavras escorregam sôfregas de meus lábios, quase não me reconheço. E, nesse desconhecimento prazeroso, sinto seus braços fortes empurrarem meu corpo contra a cama. De costas para ele, aguardo novo contato de nossos corpos. Fecho meus olhos, espero. Um frio na barriga, uma coisa. Mas nenhum movimento. Viro-me. Ele foi embora.
            Sempre o mesmo sonho, o mesmo pesadelo. Acordo suado, excitado, desesperado, preso à realidade fria e solitária de minha cama. Levanto-me, acendo as luzes, procuro o fantasma. Nada. Nada, além de mim.
            Vago pela casa ainda à procura. Vazia, como sempre vazia. Talvez na cozinha... quem sabe? Nada. Então abro a geladeira e bebo um copo d’água.
            Lá fora chove. Aqui um deserto. Sinto medo. O silêncio parece que fala nesse apartamento.
            Faz dois dias que ele apareceu. Apareceu e saiu. Rápido. Falou algumas palavras e saiu. Mas deixou um sonho, um pesadelo, tão instantâneo quanto a sua aparição.
            Cretino! Como sabia? Como ousara? Surgir na minha companhia, oferecer seu corpo moreno e barbado em troca de um emprego. Safado!
            Mas como seus olhos brilhavam! Quase hesitei... Porém um dono de uma companhia de seguros como eu não pode revelar insegurança. Pus aquele estranho em seu devido lugar: na rua!
            Mas, enquanto ele saía, parecia que meu coração o acompanhava... Será que me precipitei – quem sabe não poderia...? Maldito! Por que não partiu inteiro? Por que parece que ficou e fui eu que saí? Que ridículo sou, ridículo estou, ridículo!
            Um instante! Uma entrevista! Um minuto! Quantas coisas se passam num milésimo de segundo? Uma proposta indecente... tudo que esperei, todas as noites de sábado que procurei, e ela – ele – me vem numa sexta-feira à tarde num horário comercial!
            Dinheiro, eles só querem dinheiro! Prostituta ou anjo? Algum dia, saberei a resposta? Quem sabe, quem sabe? Quanta insegurança me traz uma vida materialmente segura. Por que menti pra ele? Se a mulher que vive comigo estava em mim esperando por ele? Talvez o garoto tivesse boa intenção, interessou-se por mim de verdade, quem sabe?
            Não sei. Agora é tarde: só me resta o fantasma, o sonho, o pesadelo, essa chuva que não acaba, essa solidão que me maltrata, esse silêncio dizendo que o tempo passa, que tudo acaba.
            Talvez devesse mudar de negócio, virar a página. Talvez o futuro me dê uma segunda chance, quem sabe?

Alguma cidade, nem risos nem frios, sem data

            Fabiano e o dono da Companhia de Seguros, os diários e os sonhos são todos personagens, são todos só palavras que me distraem, esboços de uma narrativa angustiada. Trancado na histeria da criação, eu escrevo como se acendesse uma lâmpada nas trevas do porão, uma luz no fim do túnel. Mas nenhuma palavra alcança as proezas da carne, as ferragens do trem. Apenas uma luz embaçada, as palavras desconhecem o brilho latente da carne e vegetam no caderno... Corpos escritos não possuem a solidez dos corpos da realidade. As dores que aqueles trazem não possuem a gravidade física do sofrimento destes.
            É tarde, é tarde e encerro o conto insatisfeito. Ao amanhecer, a vida passará lá fora, furiosa como uma tempestade. Aqui continuará o sereno solitário, efêmero e mascarado das palavras, tentando a atenção, a companhia de vocês, de qualquer você que passeia indiferente pelo dia, pela tarde, pela madrugada.
            Apaga-se uma luz no fim do túnel... Durmo.
            E sonho que talvez alguém me acorde, talvez alguém...

Meu filho-poema selecionado na Copa do Mundo das Contradições: CarnaQatar

Dia de estreia da teoricamente favorita Seleção Brasileira Masculina de Futebol na Copa do Mundo 2022, no Qatar, e um Brasil, ainda fragiliz...