quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Poema system-of-downmaníaco: Tirando folga do sistema


Ganhei um pedido de minha prima Priscila Toledo que se transformou em um maravilhoso desafio: ela me pediu, durante a confraternização do último Natal, um poema inspirado nas músicas da banda de rock armeno-americana System Of Down. Prometi que o poema ficaria pronto próximo ao dia do aniversário dela (29 de janeiro). Desde então ouço incessantemente as canções dessa banda, que eu já admirava (o Ronaldo Brechane tem o mérito de ter me levado a ouvir pela primeira vez o fodástico álbum “Toxicity”), pegando traduções das canções mais conhecidas, as peculiares anáforas (repetições de expressões e/ou palavras em diversos versos próximos), a acidez crítica das composições, tentando acompanhar o ritmo intenso e múltiplo da banda, conhecida pelas letras politizadas e preocupadas com questões sociais que afetam o mundo contemporâneo. Tentei manter a temática meio social (não tão ferrenhamente politizadas quanto as letras originais) e me inspirei nas canções “Aerials”, “Prision Song”, “Chop Suey!”, “Lonely Day”, “ATWA”, “Toxicity” e “Psycho”, o que deixou o ritmo do poema ainda mais louco (quem conhece cada música citada sabe como o ritmo de cada uma delas varia). O título cita o nome da banda (“System” = Sistema, na tradução literal, que não corresponde muito com a planejada pela banda, mas fica a homenagem literal rs).
Minha prima Priscila e eu
Espero que a aniversariante Priscila Toledo e demais system-of-downmaníacos gostem dessa doideira que fiz. Dedico também ao amigo Ronaldinho – é claro, afinal ele quem me apresentou o som dessa fodástica banda – e à banda D’Hanks, de Volta Redonda/RJ, que sempre toca uma cover, muito bem executada, do System Of Down.     

Tirando folga do sistema

Hey, garota, veja a vida,
Essa imensa cachoeira tão linda e infinita
Caindo sobre nossos corpos cansados
E passando, nos atravessando,
Enquanto nossos relógios se afogam
Na inconstância apressada do tempo,
No sistema carcerário da rotina,
Esperando um feriado pra voltar a funcionar.

Ah, a sexta-feira sagrada demora a chegar,
Ah, quantas asas queimadas até sexta-feira chegar!

Quantos anjos já matamos
Na busca corrupta por mais dinheiro,
Mais tempo presos, melhorando os piores salários?
Quantas asas nós já queimamos
No inferno do trabalho incansável
De ganhar mais pra gastarmos mais,
Vivendo os dias cada vez mais solitários,
Paralisados no movimento programado,
Estamos nos vendendo pra nos comprarmos,
Seguindo a lógica absurda do mercado!
É a toxicidade da cidade consumista:
Quanto mais nos arremessamos no concreto da rotina
Mais o céu se distancia
E os sonhos, que dormiram tão puros e vivos,
Acordam muito maduros, apodrecidos, completamente realistas,
E nossos sorrisos parecem chorar,
Precisamos voltar a sonhar de verdade, garota,
Antes que seja tarde demais!

Yeah, na próxima sexta-feira eu quero encontrar você,
Yeah, na próxima sexta-feira eu quero voltar a viver.

Estou cansado de ver todo mundo desaparecer
Na psicose de uma vida restrita a comer sementes,
Engolir migalhas, automaticamente foder e se foder e morrer,
Sem pausa pro café, sem um momento de prazer,
Estou cansado de ver você, eu e o resto do mundo desaparecer.
Por isso vamos correr desse universo psicótico,
Por isso vamos viver aquele sonho louco
De se perder pra se encontrar,
De saber correr devagar,
Pra sobreviver, pra não se matar de tanto trabalho,
De tanto desgosto sem pecado,
Nós vamos vadiar
Bem longe do consumismo fugaz;
Nós vamos voltar a voar
Pra bem longe do passatempo dos boçais.

(Feche os olhos e volte a enxergar,
Sinta o som do sonho sem sono nos levar
Pra bem longe dos programas comerciais...)

Esta sexta-feira é sagrada
E nós vamos dançar sem passos programados;
Esta sexta-feira é sagrada
E nós vamos libertar o amor aprisionado,
Sem perdemos mais nenhuma gota das águas cristalinas
Da vida perdida nos outros dias;
Esta sexta-feira é sagrada, garota,
E nós vamos viver de verdade, com prazer
Mesmo sabendo que outra segunda-feira vem pra nos matar,
Mesmo sabendo que a vida é cachoeira que continua a correr
E nos levar...
Esta sexta-feira é sagrada
E nós vamos vivê-la sem nos vender,
Vamos viver, pelo menos uma vez,
Sem nada programado pra nos matar!

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Sarau Solidões Coletivas In Bar 10: Os sobreviventes do fim do mundo (agora em vídeo)


Após alguma demora (foi mal, amigos leitores, mas acabei tirando um pouco de férias nesse janeiro e, confesso, tenho sido um pouco relapso nos últimos tempos; agora que já me foi decretado o fim do ócio, volto meio preguiçosamente a ser realmente um “diários” rs), finalmente posto os vídeos do último Sarau Solidões Coletivas In Bar, realizado no dia 19 de janeiro de 2013, no Bar e Restaurante Cantinho do Churrasco, no Bairro de Fátima, em Valença/RJ. Nessa edição, homenageamos o poeta chileno Pablo Neruda, o mito roqueiro baiano Raul Seixas e o artistamigo Adriano Gonçalves, falecido há pouco tempo (e que continuará sendo lembrado pelos músicos da região e pelo blog “Diários de Solidões Coletivas”). Durante o evento, ocorreu, naturalmente, homenagens incidentais a outros grandes artistas, como o poeta Manoel de Barros, a lenda do rock Cazuza e a fodástica e saudosa Legião Urbana. Chegamos a mais uma edição, cada vez mais consistentes, mais intensos e mais coletivos, como vocês podem ver nos vídeos postados:

Esta é a primeira parte do evento. No vídeo acima, vemos Carlos Brunno declamando poemas próprios e letras de música de Raul Seixas e Adriano Gonçalves, Zé Ricardo e Fael relembrando grandes canções de Adriano; Ronaldo Brechane fazendo sua apresentação de stand-up comedy de início de ano.

Esta é a segunda parte do evento. No vídeo acima, vemos Juliana Guida Maia declamando Renato Russo, Carlos Brunno S. Barbosa declamando poemas próprios em homenagem a amigos e a Raul Seixas, acompanhado de Karina Silva no violão; o dueto entre Carlos Brunno e Luana Cavalera; o poema de Karina Silva em homenagem a Adriano Gonçalves; o instrumental batizado de 'Esboço' por Patrick Styvanin; Zé Ricardo homenageando mais uma vez musicalmente Adriano Gonçalves; a parceria entre Cíbila Farani e Raquel Leal; e a "Verde desesperança", de Patrícia Correa em homenagem ao Dri.

 Esta é a terceira parte do evento. No vídeo acima, vemos Wagner Monteiro declamando poemas de sua autoria e do chileno Pablo Neruda; Carlos Brunno S. Barbosa e "Apenas uma canção desesperada"; Gilson Gabriel com mais um fodástico poema; Cíbila Farani declamando Neruda; Juliana Guida Maia homenageando Raul Seixas; Carlos Brunno homenageando Manoel de Barros; novos poemas de Wagner Monteiro; o poema raul seixista de Alexandre Fonseca; Carlos Brunno declamando poema de Helio, o Artista sem Pena, de São Paulo/SP; homenagem do trio Cíbila Farani, Raquel Leal e Rabib Jahara a Neruda; o poema do poetaluno Guilherme Borges da E. M. Alcino Francisco da Silva, Teresópolis/RJ, declamado por Carlos Brunno S. Barbosa; a primeira parte do show de Xarles Xavier, de São Gonçalo, acompanhado por Rafael A., criador do Feira Moderna Zine, de Niterói/RJ.

Esta é a quarta parte do evento. No vídeo acima, vemos a segunda parte do show de Xarles Xavier, de São Gonçalo, acompanhado por Rafael A., criador do Feira Moderna Zine, de Niterói/RJ; Carlos Brunno S. Barbosa declamando a crônica "Metamorfose Ambulante" de Rafael Silva Barbosa; o show de Gilson Gabriel declamando "Metamorfose", de sua autoria, acompanhado por Zé Ricardo Maia no violão.

Esta é a quinta parte do evento. No vídeo acima, vemos Carlos Brunno S. Barbosa declamando Raul Seixas acompanhado pelo violão de Zé Ricardo; o retorno de Chico Lima declamando poema de Gilson Gabriel; o poema "Notas da criação" de Gabriel Carvalho declamado por Carlos Brunno; outro dueto de Raquel Leal e Cíbila Farani; Isabel Rodegheri declamando poema em homenagem a Adriano Gonçalves; a estreia de Bruno Couto, declamando poema próprio, acompanhado pelo violão de Eddie Mendonça; um novo poema de Wagner Monteiro; Cíbila Farani nos explica poeticamente como nascem os planetas; a estreia de Iran declamando Drummond; o poema pink-floydiano de Carlos Brunno acompanhado pelo Black Cult (Davi Barros e Eddie Mendonça nos violões mandando "Wish you where here"); a primeira parte da estreia de Fred Ielpo, declamando poema próprio e tocando "Tempo perdido", da Legião Urbana, para alegria do público!

Esta é a sexta parte do evento. Neste vídeo, vemos Fred Ielpo,em parceria com Wagner Monteiro, com participação especial do fodástico saxofonista João Paulo Moreira; Juliana Guida Maia declamando poema de sua autoria em homenagem a Adriano Gonçalves; Zé Ricardo interpretando mais um hit de Adriano Gonçalves e a participação mais que especial do rapper Paulinho Gonçalves.



segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Diários de luto coletivo: Santa Maria profanada


Hoje a postagem sai por impulsividade, infelizmente natural, apesar de afetada, infelizmente gritada, apesar do silêncio da madrugada; são quase uma hora da manhã aqui (o relógio do blogger segue outro horário e ainda não sei arrumá-lo) e me vejo deitado na cama ao lado de minha namorada. Antes de nos deitarmos, vimos mais um noticiário sobre o incêndio no Clube Kiss, em Santa Maria/RS, durante uma festa universitária. O trágico evento já registra 233 mortos e centenas de feridos e a repórter informa que o clube não tinha, no momento, alvará para eventos daquele porte, nem alvará de prevenção a incêndios. Quando nos deitamos, vejo minha namorada e eu tão vivos, ao mesmo tempo em que a morte queima em nossos olhos após vermos a notícia; mesmo distantes geograficamente de Santa Maria, vemos a dor; o luto não tem distância. Esse poema surgiu nesse momento de tristeza e é assim postado.

Santa Maria profanada

Chamas em ti,
Desespero neles,
Tristeza em nós.

Leis descumpridas,
Diversões impróprias,
Sem licença para queimar,
Hoje a dor arde no lugar do amor.

A festa virou luto,
A vida virou tragédia,
Hoje o fogo nada clareia,
Hoje o que queima são lágrimas.

Primeiro os gritos dos que partiram,
Depois mais gritos dos que ficaram,
E agora só o grito dos silêncios
Na sala assustada com o noticiário.

Santa Maria, Senhora dessa desmerecida Desgraça,
Perdoai pelas velas antecipadas
E rogai por nós, inocentes pecadores,
Nessa hora de tantas mortes,
Nessa hora em que não podemos salvar ninguém... 

sábado, 26 de janeiro de 2013

Solidões musicais compartilhadas: A crítica e o amor de Luiz Guiherme Monteiro


Hoje compartilho pela primeira vez minhas solidões poéticas com o músico, compositor e poeta valenciano Luiz Guiherme Monteiro, jovem talento que conheci no facebook por intermédio do amigo e apreciador da boa arte Bruno Luís.
Luiz Guilherme toca baixo, tem um projeto de formar uma banda de Metal Core e constrói composições fodásticas, seja questionando a sociedade em que vive, seja falando de amor (“sou versátil nesses dois temas”, afirma o jovem artistamigo). Para que conheçam essa versatilidade do rapaz, trago aos amigos leitores dois poemas-composições de Luiz Guilherme: o liricamente ácido “Sociedade Maldita” e o romântico “Não existo longe de você”.
Que nos afastemos dos podres padrões da sociedade maldita e nos mantenhamos sempre perto do amor, amigos leitores!

Sociedade Maldita

Bem-vindo a mais um dia de desgosto acumulado
Mais um dia para observar a falsidade e a maldade lado a lado
Bem-vindo à vida real
Agora se toque e veja que nenhum de seus amigos é leal
Tudo é aparência, dinheiro e política
Tudo isso é a nossa Sociedade Maldita

Não perceberam ainda que isso não quer dizer nada?
Nunca notaram que sua aparência interior sempre é tão podre quanto o que você pensa e fala?
Todos sabem a triste resposta
Sociedade Maldita que acolhe de forma calorosa
Todos que se encaixem em seus padrões
Todos que usem seus ridículos bordões

O sistema só funciona para o sistema
E então por isso aprenda
Não é o saco de cimento que ele te deu agora
Que vai impedir seu filho de se vender para as drogas
Talvez seja isso que eles querem
Mas com certeza não é o que todos merecem!

Política e clero são irmãos de finanças
Assim como a fome e ignorância sempre estão com as pobres crianças
Mas é claro que eles querem desse jeito
É mais fácil comprar votos de ignorantes para virar prefeito
Olhem para suas próprias e vazias vidas
Aliás, olhem para o que há muito tempo já fugiu de suas vistas

Dinheiro, lute por dinheiro
Lute por fama, para deixar de ser um simples fazendeiro
Passe por cima de todos os seus amigos para isso
Mantenha esse ciclo como seu vício
Bem-vindo a Sociedade Maldita
Bem-vindo a sociedade que te escraviza

Você não é, nem será bom o suficiente para eles jamais
A única coisa que eles colocarão em sua lápide junto com teu nome é aqui jaz
Não se entregue a eles
Não tenha medo deles
Se eles mesmos não se destruírem sozinhos
Eu farei isso com eles e com todos seus amiguinhos

Não basta ser boa pessoa
Basta ser rico e famoso

Não basta ter amizades verdadeiras
Basta ter amizades influentes

Não basta respeitar
Basta aderir e se juntar

Não basta manter distância
Basta combater

Sociedade Maldita só lhe importa dinheiro e aparência
Que se danem os bons costumes e toda a decência
Só lhes importa serem podres de ricos
E para isso o prato de quem quer que seja pode continuar limpo e liso
Sociedade Maldita, só se importam consigo mesmos
Vocês não terão a chance de um recomeço



Não existo longe de você

Eu não aguento mais sem você
Eu não existo longe de você
Simplesmente não quero ficar longe de você
Não quero ficar sem olhar para você
Sem sentir você
Sem estar com você

(Refrão)
Não sei quando ou o que levou a acontecer
Mas sei que nada demorei para perceber
Acabei me apaixonando por você
Sem você não dá mais para viver

Não quero distância entre mim e você
Até porque nos conhecemos a tanto tempo... eu e você
Meu coração bate por você, meus olhos em tudo veem você
Não tem como negar, eu amo você
E você sabe que meu amor não é de hoje... e talvez existam outros que saibam além de você
Todos que sabem dizem... fazemos belo casal... eu e você.

Nunca senti por ninguém o que sinto por você
É amor de verdade, isto eu juro e garanto pra você
A toda hora, todo minuto quero ver você
A todo o momento quero comigo, somente você
A meses que todas as noites, todos os dias, sempre me pego pensando em você
A pessoa com quem eu quero passar a minha vida é você

A vida parece ter sentido com você
Suportar todos os tipos de pessoas se torna fácil quando estou com você
Qualquer que seja o problema desaparece se estou com você
Um dia garanto que vamos ver o amanhecer abraçados.. eu e você
Quando penso em escrever, consigo somente pensar em você
Em sua voz soando em meu ouvido e tudo mais.. em você

Um péssimo dia se torna perfeito com você
Um perfeito dia se torna péssimo sem você
No reflexo da lua, quem vejo é você
No calor do intenso sol, só penso em você
Tive milhões de planos para fugir com você
Tive milhões de ideias para contar tudo isso para você

Bom, hoje, que eu lhe amo já disse a você
A mulher que me cativou, me domou e a qual eu amo é você
Eu envio essa música a você
Junto com o convite que vou fazer para você
Já fiz antes, então agora vou repetir para você
Que tal, sermos para sempre só eu e você?

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Contos famigerados: Minha redação de "Minhas férias"

Desenho de Lucas Rodrigues
inspirado na música "Eu vi gnomos".
Mais desenhos do rapaz podem ser
encontrados no link:
http://lr13desenhos.blogspot.com.br/  

Foi mal o sumiço, galera! Após mais um intenso e fodástico Sarau Solidões Coletivas In Bar (em breve, posto os vídeos do evento), resolvi tirar breves férias do blog. Mas não resisti muito tempo ao ostracismo autoimposto e voltei cheio de saudades desse compartilhamento de solidões coletivas! E pensando em férias, trago para os amigos leitores um conto inédito, uma história inventada que satiriza a famigerada 'redação sobre as suas férias' que alguns professores têm a mania de nos atirar como atividade inicial em todo começo de ano letivo, sem uma preparação, nem contato com outros textos sobre o tema. Como, além de escritor, sou professor de Português e, desde meus tempos de aluno, detesto essa atividade (quando praticada sem contextualizar o aluno, mostrar-lhe um texto sobre o assunto, etc), resolvi me vingar, criando uma história fictícia, uma redação forjada sobre as férias de um personagem muito louco (pelo menos, passou o período das férias enlouquecido), usando alguns traços característicos de redações iniciais de crianças e adolescentes. Para ser lido ao som de "Eu vi gnomos", da banda Tihuana.
Estamos de volta, amigos leitores! Arte sempre!



Minhas férias

Bem, vou falar das minhas férias. Pois é. Minhas férias foram muito legais. Fui num lugar muito maneiro, fessora, tinha praia, tinha cachoeira, tinha mato, muito mato, eu gostei muito do lugar.
            Fui pra lá com uns amigos e o tio deles, longe de mamãe e de papai, pode imaginar? Acampamos, não sei armar barraca, mas meus amigos e o tio deles me ajudaram e armaram a barraca pra mim. Então coloquei minhas coisas na barraca e fomos pra praia no primeiro dia. Foi muito legal! Nadei, peguei jacarezinho nas ondas, pisei na areia quente, tomei sol e andei muito no meio do mato, pois, como já disse à senhora, tinha muito mato por lá.
            No outro dia, choveu e foi muito chato, pois praia sem sol não dá! Fiquei no acampamento e conheci um monte de pessoas que falavam de um jeito engraçado. Eles eram de São Paulo e também passavam suas férias ali. Eles falaram de sua terra, de arranha-céus, de poluição e também falaram que ali onde eu estava era só paz e amor. Um deles até me contou que havia duendes ali, fiquei meio cismado, mas eu não acreditei nele não. Então eles me contaram que podíamos fumar o mato dali. Não entendi nada, fessora, mas eles me mostraram e o mato dali tinha uma fumaça gostosa. Não resisti e pedi pra experimentar. No começo, tossi, mas depois foi muito legal! Após isso, eles me contaram que as fadas deixavam um pó mágico ali, continuei cismado, mas comecei a acreditar neles. Então eles me revelaram que uma dessas fadas deixou um pó no saquinho pra eles e que bastava cheirar um pouco pra começar a voar. Duvidei deles, fessora, e disse que a senhora tinha ensinado tudo sobre a lei da gravidade. Eles riram de mim, eu fiquei muito bravo por zombarem dos conhecimentos da senhora e aí eles me desafiaram a experimentar. Cheirei com vontade pra comprovar que eles estavam errados, mas não foi que eu voei mesmo? E como eu voei! Foi muito maneiro, fessora! Eles me disseram que nem tudo se aprende na escola e, sinceramente, acho que eles tinham um pouco de razão, mas não me leve a mal, fessora, se quiser até apago essa minha opinião, se isso ofender a senhora. Depois disso, eles repetiram que havia duendes no mato dali. Isso era demais, matos de fumaça gostosa e fadas de pó mágico tudo bem, mas duendes era demais pra minha cabeça. Fiquei cismado de novo e bastante irritado por me tratarem como uma criança boba que não sabe de nada. Eles riram mais ainda de mim e percebi que, mesmo irritado com isso, eu ria também, coisa estranha, fessora! Aí eles, rindo cada vez mais, me ofereceram um chá e eu disse que odiava chá e que, só porque eram estrangeiros, eles não podiam me tratar daquele jeito. Tomei o chá só de raiva pra mostrar que era muito macho e que aqueles estrangeiros eram um bando de frouxos que não sabiam nem falar direito! Mas eu vi! Surgiram duendes de todas as partes, fessora, foi uma surpresa muito legal! Não resisti e confessei pros tais paulistas que queria morar no país deles e ver coisas mágicas todo dia como eles viam. Mas eles não estavam mais ali, só havia duendes rindo, arco-íris coloridos, fiquei muito doido, fessora! Foi tudo muito bonito, muito legal! Só não gostei dos meus amigos, que dormiam enquanto eu fazia novos colegas, me deixaram sozinho e, depois, quando acordaram, vieram brigar comigo só porque eu dormia em cima da barraca e, disseram meus amigos, não falava nada com nada. Eles estavam com inveja, fessora, porque eu sei fazer novos colegas, não precisei deles pra isso, bando de invejosos que não sabem fumar cigarro de mato de fumaça gostosa, nem cheirar pó mágico de fada, nem beber chá de duende com arco-íris coloridos! Discutimos e meus amigos decidiram pedir pro tio deles pra voltar pra casa no dia seguinte. Fiquei triste com eles, mas fazer o quê? Falaram que são meus amigos por não contarem nada pra minha mãe e pro meu pai, nem pro tio deles que levou a gente ali, mas, os paulistas tinham razão: um bando de chatos caretas é o que os meus amigos são. Nem contei pra eles que já tinha conversado com o tio deles e que ele era um duende muito resmungão.
            Viemos embora no dia seguinte, estava um sol lindo e fiquei muito puto (desculpe, fessora, se quiser eu apago, só estou sendo sincero, fiquei muito bravo com meus amigos e o tio deles, que não era mais duende, mas continuava resmungão). Fiquei uma semana em casa emburrado sem falar com meus amigos, uns babacas escrotos que não sabem de nada! Mas as aulas voltaram, reencontrei eles e já tinha esquecido tudo: os estrangeiros, os duendes, as fadas, o mato de fumaça gostosa, enfim, fazer o quê?
            E, pra provar como gosto de estudar e gosto mais ainda das suas aulas, ultrapasso as linhas que a senhora pediu, avisando que vi muitas mulheres seminuas tomando sol na praia, mas nenhuma chega à sua beleza principalmente quando a senhora vem dar aulas com aquela saia curta que deixa as coxas todas de fora.

Te adoro, fêssora!

FIM.
           
Obs.: Gostou? Se quiser, escrevo mais... Fé em Deus e nóis na fita!

sábado, 19 de janeiro de 2013

Solidões compartilhadas in memoriam: Adriano Gonçalves chegando com humildade em "Aonde vai"


Hoje compartilho mais uma vez minhas solidões poéticas com o compositor, músico e artesão Adriano Gonçalves. Desta vez posto mais uma composição fodástica dele: a “Onde vai”, super-tocada pelos músicos valencianos, aqui registrada duas vezes em vídeo pelo próprio Adriano (em vídeo gravado na webcam do artistamigo Zé Ricardo), uma em versão solo e outra em parceria com o Zé Ricardo e duas versões da mesma música gravadas pelo músico Fábio Arieira. Além destes três vídeos de “Aonde vai”, trago aos leitores também um vídeo do Adriano executando uma versão solo de “Humilde” (gravação também gentilmente pelo músico Zé Ricardo), cuja letra já foi divulgada anteriormente aqui no blog.
Em tempo: Neste sábado, dia 19 de janeiro, às 19h, no Bar e Restaurante Cantinho do Churrasco, no bairro de Fátima, em Valença/RJ, faremos uma homenagem, um tributo ‘humilde’ ao fodástico artistamigo Adriano Gonçalves.
Pensemos bem aonde a gente quer chegar, amigos leitores. Arte sempre!  

Aonde vai

Aonde vai? Pense bem.
Quem te faz se sentir bem?

Mentir pra si mesmo não dá
Sobre o que te corroeu
A vida é bela, vamos lá
Todo começo tem um fim

Mas desde quando comecei
Não quero mais parar
Se for melhor pra ti, cuidado pra não tropeçar.
Até quando eu vou ter que dizer
Será que o verdadeiro é o branco do olhar
Mas se for seguir em frente siga sem pensar
No que aconteceu

Mas tá tranquilo, passa devagar
Com humildade a gente chega
Aonde a gente quer chegar








Vídeo da música "Humilde", 
gravada pelo próprio Adriano Gonçalves




quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Solidões Compartilhadas: Voltando pra Ilha das Flores com Xarles Xavier


Hoje compartilho pela primeira vez minhas solidões poéticas com o fodástico músico e compositor Xarles Xavier, de São Gonçalo/RJ.  Xarles Xavier se define como um “compositor inquieto, sempre criando, desenvolvendo ideias e melodias” (segue o link da página do músico no facebook: https://www.facebook.com/xarlesxavier.oficial?fref=ts) . Divido com os amigos leitores uma obra concreta do talento desse grande músico: a letra e o vídeo da romântica e fodástica “Ilha das Flores”.
Em tempo: Neste sábado, às 19h, no Bar e Restaurante Cantinho do Churrasco, no Bairro de Fátima, em Valença/RJ, o compositor Xarles Xavier se apresentará ao lado do músico e produtor Rafael A. na edição de janeiro do Sarau Solidões Coletivas In Bar (vejam as informações no link da Feira Moderna Zine: http://www.feiramodernazine.com/2013/01/sabado-e-dia-de-xarles-xavier-em.html?spref=fb ). O novo show é fruto de um longo período de ensaios e experiências musicais.
Encontremos, com Xarles Xavier, o caminho pra voltar pra ilha das flores, amigos leitores!

Ilha Das Flores

Me cansei de dizer que eu não sei quem eu sou
Se o que importa pra mim é quem é o meu amor
Me cansei de fingir que está tudo bem
Com a cabeça a mil
E o meu carro a cem por hora sem sabe quando parar
Talvez me mostre o caminho pra voltar
A cem por hora sem sabe quando parar
Talvez me mostre o caminho pra voltar

Pra ilha das flores, pra ilha das flores.

Se eu não sei pra onde vou
E nem sei de onde vim
Mas eu sei onde estou
E isso basta pra mim

Na ilha das flores, na ilha das flores.


terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Solidões compartilhadas: O adeus que Isabel Cristina não queria dar


Hoje compartilho mais uma vez minhas solidões poéticas com a poetamiga valenciana Isabel Cristina Rodegheri. Reconhecida pelos leitores do blog como a musa dos haicais, desta vez, Isabel nos traz um poema emocionante, uma fodástica elegia (poema feito em homenagem a alguém falecido) em homenagem ao também fodástico artistamigo Adriano Gonçalves, falecido recentemente. Nas suas diversas passagens por Valença, o artista Adriano, amigo de Juliana Guida Maia e Zé Ricardo (filhos de Isabel), sabia que era bem-vindo na casa da poeta (no primeiro dia do ano, ela o esperava para o almoço de ano novo...). 
Escrito nesse período de melancólicas chuvas, o poema traz o ritmo triste da garoa intensa e nos aquece com as emoções tristes de um adeus que não queremos dar.
Em tempo: Isabel Cristina estará na homenagem a Adriano Gonçalves, que faremos no “Sarau Solidões Coletivas In Bar 10: Os sobreviventes do fim do mundo”, a ser realizado no Bar e Restaurante Cantinho do Churrasco, no Bairro de Fátima, em Valença/RJ, neste sábado, dia 19 de janeiro de 2013, às 19h. (Sim, a arte do fodástico compositor, artesão e músico Adriano Gonçalves permanecerá sempre conosco!)
Leiamos, amigos leitores, o adeus de Isabel Cristina Rodegheri que leva nossos queridos amigos ausentes pra eternidade presente de nossas emoções!

O ADEUS QUE EU NÃO QUERIA DAR

Da janela vejo a chuva caindo sem cessar.
Quantas reflexões ela nos traz apenas num olhar...
A melancolia me invade sem que eu queira;
Recordações de acontecimentos vividos
(Passados – Recentes),
Alguns ainda tão latentes...

Por que a vida às vezes nos machuca tanto?
Por que deixa em nossos corações um vazio tão grande?
Perguntas sem respostas...

No canto, um violão silencioso;
No rosto, um sorriso que não ilumina mais;
No ouvido, a voz que teimou em calar.

O que nos resta então?

Apenas lembranças – (que são muitas)
Permanecendo dentro de nós,
Iluminando nossas almas,
Perpetuando para sempre a sua história.


segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O retorno de Isabella Silva às Solidões Compartilhadas: E por que não tentar?!?


Um dia após completar um ano de sua primeira participação, a escritora teresopolitana Isabella Silva está de volta, cada vez mais intensa e revolucionária em sua escrita!
Confesso que, diante de alguns trágicos acontecimentos no início deste ano, a poetamiga Isabella, ex-poetaluna minha (uma das premiadas no Concurso de Poesias da ALAP/RJ do ano passado), trouxe um sorriso de volta ao professor-poeta-pateta que vos fala, quando me apresentou seu novo poema, escrito durante as férias. “Estava com saudade de escrever, professor”, afirma a escritora. Assim compartilho minhas solidões poéticas com essa talentosa jovem, sempre antenada com a atualidade e dona de um estilo poético intenso e muito maduro.
Se o tempo está nublado, por que não tentarmos iluminar o dia com versos que protestam pelo retorno do sol?

E POR QUE NÃO TENTAR?!?

Já tentei olhar o mundo com outros olhos...
Tentei ver os seus lados bons...
Mas não encontrei... E por que não inventar um novo mundo?

Já tentei ver o lado bom das guerras,
Entender pra que tanta obsessão...
Mas não encontrei... E por que, ao invés de armas, não usarmos flores?

Já tentei saber o que fazem para evitar a desnutrição,
Saber por que tantos inocentes precisam e não têm...
Mas não encontrei... E por que, em vez de jogar fora nós não damos à quem precisa?

Já tentei entender porque existe a política...
Por que votamos naqueles de que nada sabemos, além do que nos contam...
Mas não entendi... E por que, em vez de votar em alguém de terno e gravata, não votamos em alguém com a roupa simples, o rosto suado e mãos e pés com calos?

Já tentei dizer, gritar, expressar, olhar, mostrar a minha simples opinião...
Mas não ouviriam a opinião de quem critica os "poderosos"..
Não me ouviram... E por que não escrever os nossos pensamentos, em vez de simplesmente aceitar que somos pequenos, não mostramos pouco a pouco a nossa opinião?

E por que, ao invés de ser uma garota de 15 anos cheia de coisinhas e futilidades, eu estou aqui escrevendo?
Porque eu me importo com o amanhã... Porque querendo ou não, esse é o meu mundo...
E por que não mudá-lo?


domingo, 13 de janeiro de 2013

Solidões compartilhadas in memoriam: Adriano Gonçalves viajando com as asas da imaginação


Hoje compartilho mais uma vez minhas solidões poéticas com mais duas composições do artistamigo Adriano Gonçalves, em parceria com Cascão. As duas canções marcam o retorno da banda de reggae Dezabutinados, da qual Adriano fez parte e que havia ficado um tempo inativa.
Marcam também a fase em que Adriano morou em Rio das Ostras/RJ, em 2011, em contato com a praia e resgatando seu estilo preferido: o reggae (no conteúdo das letras podemos perceber também um resquício do gospel, que marcou o início de sua carreira musical). Os vídeos foram produzidos pelo 'Charada Andrade' e valem como registros das músicas e imagens de Adriano.
É momento de viajarmos com as asas da imaginação de forma humilde, pra chegarmos em algum lugar.  

Receptar

A gente sempre tá aê
A gente sempre tá aê
A gente sempre tá aê

Aprenda a viajar, hey,
Com as asas da sua imaginação,
Através do universo, hey,
Desembarcando numa outra dimensão
Onde o ódio e o amor se fundem em tons
Que emanam a melodia que emana a luz
Onde a paz e a guerra são sementes, terra
Que brotará no jardim celestial

A gente sempre tá aê
A gente sempre tá aê
A gente sempre tá aê



Humilde

Ié Ié
Pra poder chegar em algum lugar
É preciso um esforço mental
Chegar do lado só para imitar
Tente ser mais natural
Não é difícil, é só improvisar
Independente de ser bicho ou normal
Chega disso, não jogue pelo azar
A vida é curta, tente aproveitar

Ié Ié Ié
Ié Ié Ié ééé

Mas quanto mais vou tentando te explicar
Você finge não prestar atenção
Não adianta chegar e dichavar
Faça tudo com mais empolgação
E o sistema na memória sem falhar
No computador é mole, meu irmão,
Crie dentro da sua cabeça
Altos mares fluirão!

Ié Ié Ié

Humilde
Seja mais humilde com você
Humilde
Seja mais humilde no olhar
Humilde
Seja mais humilde pra vencer
É simples pra poder chegar
Em algum lugar

Ié Ié Ié
Ié Ié
Com você...


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Uma (sub)versão inquieta para "Easy"


Tudo bem, admito, o blog anda meio melancólico e o autor que vos fala não tem sido a pessoa mais positiva do universo (na verdade, nunca fui; mas tenho sido um pouco mais sorumbático que o normal). O tempo também não contribui (ou melhor, ajuda mais ainda a permanência da melancolia): da janela vejo um dia cinza e chuvoso, invernal, nem parece verão. Hoje deixo mais uma tentativa poética de respirar, ainda melancólica, mas ainda uma forma de encontrar ar pra continuar.
Anderson Teco (à esquerda) e eu
no Sarau Solidões Coletivas In Bar
Dia 10 de janeiro chuvoso, aniversário de meu amigo Anderson “Teco” (parceirão da boemia desde quando “ainda éramos tão jovens”), relembro uma canção que ele curtia demais e vivia cantarolando (na época, juntávamos com hippies, punks e loucos nas escadarias da Igreja Nossa Senhora da Glória, com um garrafão de vinho, um violão e a necessidade urgente de se divertir, sobreviver nossa liberdade de cantar de qualquer jeito, poetizar, sorrir); hoje, em homenagem ao Teco, construo uma (sub)versão da canção “Easy”, na versão do Faith No More (a original, dos Commodores teria uma estrofe a mais, suprimida no cover da banda de Mike Patton). Queria algo mais alegre, como o Teco, mas não consegui realizar esse desejo no conteúdo, apesar de a Juliana Guida Maia – para quem li o poema antes de publicar – ter achado a estrofe final meio esperançosa no estilo ‘Renato Russo’.
Que as chuvas de hoje molhem a terra com menos luto e mais vida:

Dizer

É tão estranho como essas chuvas ferem minha pele...
Tanta gota amarga numa doce manhã de verão...
Queria te dizer que nesse ano vamos ficar bem
Mas há sempre um desastre, um abalo...

E eu queria te dizer
Te dizer que nesse dia não haverá nenhuma nova morte...
E eu queria muito te dizer
Te dizer que, apesar do dia, talvez o sol nos retorne...

E eu procuro ar pra te falar
E eu queria fingir
Dizer todas aquelas tolices motivacionais
Eu já tentei fingir
Mas não consegui, oh, babe!

E eu queria te dizer
Te dizer que nesse dia talvez tenhamos mais sorte...
E eu queria muito te dizer
Te dizer que, apesar do dia mórbido, o sol não morre...


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