terça-feira, 26 de março de 2013

Protesto contra a política de (i)mobilidade urbana em Teresópolis: Buscando a 'liberdade de expressão' que eles nunca deram pra gente



Era para sermos milhares, mas éramos uns 40 manifestantes. Mesmo assim, representávamos a insatisfação de milhares, o movimento começou a se consolidar e quem sabe dos mandos e desmandos do atual governo municipal de Teresópolis faz a hora, não espera acontecer. A manifestação de estudantes, artistas e trabalhadores contra o aumento de passagem dos ônibus de Teresópolis/RJ, organizado pelo MCAP - MOVIMENTO CONTRA O AUMENTO DA PASSAGEM, realizado na terça-feira, dia 19/03, às 18:30h, em frente e dentro da Câmara dos Vereadores da cidade, não tinha todo o público que se esperava, porém mostrou claramente aos ditos ‘representantes do povo’ que as camadas populares não estavam nada satisfeitas com o aumento da passagem de ônibus para R$ 2,90, valor muito acima do orçamento da maioria mais pobre da população e cujo preço – um dos mais caros da região – não reflete a falta de qualidade do transporte público da cidade. Uma das razões para o movimento menor que o esperado era simples: com a passagem de ônibus a um preço tão absurdamente caro, como as camadas populares, que moram em regiões distantes da cidade, poderiam ir ao centro da cidade se manifestar? Seja como for, ainda éramos mais de 40 manifestantes nos fazendo representar a insatisfação dos milhares que não puderam estar conosco.
A data escolhida para a manifestação  não poderia ser mais propícia: no dia 19/03, os vereadores de Teresópolis/RJ, os ditos ‘representantes do povo’, estavam preocupados com seus próprios umbigos, pois, naquele dia, eles tentavam antecipar a votação de 2015 (!) da eleição da mesa diretora da Câmara (presidente, vice-presidente, etc). Ou seja, a manifestação popular veio mostrar a insatisfação do povo num momento em que a Câmara se preocupava com assuntos que só satisfaziam a seus próprios destinos. Enquanto a população sofre no bolso para chegar ao seu destino, à sua casa, andando de ônibus, sem saber como será o seu amanhã, os vereadores da cidade se debatiam por uma eleição prevista para só daqui a dois anos, ignorando os problemas atuais de nossa cada vez mais estagnada cidade. Não podia haver sentimento de revolta maior naqueles que participavam da manifestação popular; era preciso fazer algo. E fizemos.
Em frente à Câmara dos Vereadores, a professora Rosangela Alves de Castro nos apresentou os problemas que tamanho aumento de passagem de ônibus – muito maior que o previsto pelo estudo sobre a mobilidade urbana em Teresópolis, feito pelos competentes engenheiros da Coppetec-UFRJ – gera nas finanças de pessoas das camadas mais populares. Outros manifestantes mostraram a importância de mostrarmos a nossa insatisfação e reivindicaram uma audiência pública para que o aumento da passagem fosse discutido com todos os representantes das camadas populares e para que o valor fosse reavaliado, como deveria ser feito e discutido, mas infelizmente não é. O blogueiro que vos fala apresentou o poema “O assalto”, crítica poética ferrenha ao aumento da passagem de ônibus na cidade - já publicada aqui no blog em postagem anterior. Essa parte da manifestação foi registrada em vídeo, como vocês podem ver mais abaixo.
O segundo passo do movimento popular foi entrarmos na Câmara dos Vereadores e expormos, através de cartazes, a nossa insatisfação com o preço da passagem e a atual política pública de mobilidade urbana em Teresópolis/RJ, durante a sessão realizada pelos vereadores. Logo que entramos na Câmara, os seguranças da instituição se mostraram bastante ríspidos conosco e avisaram, em tom de ameaça, que nenhum cartaz deveria ser exposto na sessão dos vereadores. Algumas pessoas, presentes na sessão, conhecidas na cidade por sempre se associarem a políticos da situação e buscarem vantagens políticas através da bajulação, também tentaram provocar os manifestantes mais jovens, desprezando a importância da manifestação. 
Mesmo nesse ambiente hostil, entramos na sala, onde as pessoas assistiam à sessão da Câmara (ironicamente, o nome desse espaço era “Liberdade de expressão”, classificação equívoca se pensarmos em como fomos tratados desde quando entramos na instituição), e expomos os cartazes que refletiam nossa insatisfação com o aumento absurdo da passagem de ônibus. Éramos uns 40 manifestantes, mas, naquele momento, parecíamos e representávamos milhares. O presidente da Câmara de Vereadores não teve outra opção: interrompeu a sessão para destacar a nossa manifestação e declarou que receberia os líderes do movimento para uma reunião com os demais vereadores, após o fim da sessão. Conquistamos assim, na garra e na coragem, o direito de expressarmos nossa insatisfação e abrimos um canal de diálogo com os ditos ‘representantes do povo’. Na saída da sala “Liberdade de expressão”, fomos mais uma vez mal vistos pelos seguranças da câmara e novamente provocados pelos bajuladores dos vereadores. Mas nada nos ofendia mais; havíamos conquistado nosso espaço de reivindicação e nenhuma provocação poderia nos tirar essa vitória.
Satisfeito com o resultado da manifestação, voltei pra casa (infelizmente, tive que pagar a cara passagem de ônibus, pois moro em região afastada do centro da cidade). Dentro do ônibus, cujo destino final era “Holliday” – caminho para o meu bairro -, vi o motorista parar em um dos pontos e uma senhora lhe perguntar sobre o veículo que teria destino para o também afastado bairro de Santa Rita. O motorista explicou à senhora que, devido as chuvas dos dias anteriores, a estrada estava cheia de lama e que nenhum ônibus faria o trajeto para Santa Rita naquele dia. A senhora, atônita, entrou no ônibus e disse ao motorista: “Mas... eu moro lá... vim do Rio de Janeiro... como vou fazer?” Não recebeu nenhum resposta, pois não havia resposta para sua pergunta: é duro demais lembrar que ela teria que andar milhares de quilômetros a pé para chegar a sua casa. Impotente diante da situação, só pude me lembrar da ideia de o transporte público ser totalmente dirigido pelo governo municipal, como sugeriu um dos manifestantes. Santa Rita e grande parte da área rural da cidade, há tempos, nem é asfaltada, nem recebe qualquer tipo de obra de manutenção, apesar das verbas vindas da tragédia das chuvas de 2011 (até hoje se pergunta onde foi empregado tal dinheiro). O governo municipal não cuida de suas próprias estradas, ignora a população pobre e rural, e, atualmente, não consegue nem controlar um aumento de passagem, muito acima do orçamento das camadas populares. Cheguei em casa, tão atônito quanto a senhora que teria que ir pela estrada lamacenta de Holliday a Santa Rita a pé, e fiquei me perguntando pra que, afinal, servia um governo municipal que tinha como lema “Cuidando bem das pessoas” e que, ao contrário de sua propaganda, ignora todo mal que faz ao povo que, infelizmente, o elegeu.


Um comentário:

  1. Municipalização, já! Enquanto tiver um empresário administrando um serviço, visará altos lucros, por isso as passagens vão aumentar sempre......os vereadores, o prefeito, com certeza foram eleitos com o apoio desses empresários, e agora, claro, governam prá eles.....os 40 valorosos manifestantes estão de parabéns, mas conseguir somente uma diminuição do preço da passagem, agora, vai ser uma vitória temporária......eles vão atacar de novo........não às privatizações!....é a palavra de ordem, na minha opinião......abraço!

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