sábado, 26 de julho de 2014

Tudo que não falei pra você (ou A tempestade que não acaba)

Há algum tempo atrás, vi na página de atualizações do facebook, uma mensagem que minha amiga virtual Cris Lacerda compartilhou sobre sentir a chuva e não apenas vê-la cair. Por causa dessa mensagem, me vieram mil poemas na cabeça – um destes é o que compartilho hoje com os amigos leitores no blog.
Esse poema demorou um pouco para ser postado, pois foi selecionado em uma coletânea e tive que segurar a postagem pra preservar o ineditismo do texto. Ainda não é o poema sobre sentir as chuvas que planejei e prometi para Cris Lacerda, mas recebeu a influência da postagem dela e, assim, é dedicado a ela e a todos que veem as chuvas de inverno e que levam milhares de sentimentos todas as vezes que assistem ao espetáculo das chuvas que hibernam nossas sensações no inverno, como as canções mais melancólicas da Legião Urbana, como a poesia sublime de uma tristeza ‘quase sem querer’ que acorda em nossos olhos nestes dias frios.

Tudo que não falei pra você (ou A tempestade que não acaba)
Tudo é dor e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor.” (Renato Russo)

Sabe esse corte em meus lábios,
tão invisível pra nós dois?
É aquele beijo que não dei em você.
Dói sempre, mas alivia quando adormeço,
cicatriza quando bebo sonhos.

Sabe esse buraco em meu peito,
tão protegido dentro da camisa?
É aquele coração que se abriu
e você não levou.
Dói sempre, principalmente em dias frios,
gela em noites de calor...

Sabe essa flacidez em meu sexo,
tão escondida no banho solitário?
É aquela noite mal dormida,
a cama vazia como você deixou.
Dói sempre, mas o ralo do chuveiro leva
todos os esforços de tentar o prazer,
inútil tentar sozinho me fazer amor...

Sabe essa ferida no dedão do pé,
tão aflita e ridícula no sapato apertado?
É aquele chute que dei contra a parede,
depois que você não voltou.
Dói sempre, principalmente quando amanhece
e vejo a sala intacta, sem nenhuma evidência
da minha violência,
como furacão que nada arrasta,
tempestade sem água,
hoje está chovendo demais!...

Sabe esse cara bem sucedido na sua frente,
tão abatido apesar do sorriso?
É aquele mesmo homem orgulhoso
que ignorou a sua tristeza
e agora dorme sempre com ela,
sem saber como lidar com toda a dor
que você deixou...

Tenho que ir, ver como o inverno invade a minha casa,
deixo consigo a minha máscara descarada,
enquanto me jogo na tempestade que não acaba.
Engano-me que são gotas de chuva as minhas lágrimas,
cabeça erguida, alma cabisbaixa,
o velho bom mau perdedor...


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