quinta-feira, 23 de julho de 2015

Meu lado lirista plástico: Os olhos nos olhos de Modigliani

Yeah, hoje o blog Diários de Solidões Coletivas faz 4 anos de existência, insistência e resistência, e, conforme prometi há alguns dias atrás em meu facebook, farei poemas inéditos com temas e artistas sugeridos pelos amigos leitores. Começo com a sugestão da musartistamada Juliana Guida Maia, de Valença/RJ, que pediu como tema/artista “Amedeo Modigliani, mais precisamente os olhos nas obras de Modi”.
Antes de apresentar-lhes o meu novo poema, inspirado na sugestão de Juliana (que me permitiu retomar – depois de muito tempo afastado - o estilo neo-concreto contemporâneo e aliar diferentes manifestações artísticas – pintura e poesia – no mesmo poema), devo contar-lhes um pouco da minha história com o pintor Amedeo Modigliani.
Sinceramente, durante minha infância e adolescência, desconhecia completamente o universo fascinante das obras do mestre-fodástico artista plástico Amedeo Modigliani. A primeira vez que me lembro de ver esse nome foi no fim de minha juventude ao ler um daqueles ‘meigos’ minicontos do livro “111 Ais”, de Dalton Trevisan. Eis o conto:
"O jantar para os dois casais amigos. Na parede uma das mulheres nuas de Modigliani. Tanta festa, muito riso: o lombinho uma delícia. Até que um dos maridos:
- Essa moça do quadro. Ela sorri para você?

- É o meu consolo das horas mortas.A dona acode, oferecida:

- Ela sou eu, não é, bem?

Um murro na mesa estremece prato e espalha talher:

- Ela é você? Quando você tece esse amor desesperado nos olhos? Esse perdão infinito na boca?

Outro soco espirra vinho tinto na toalha:

- Não se conhece, sua bruxa?"
(Dalton Trevisan, in: "111 Ais") 
Marcante na obra “111 Ais”, de Dalton Trevisan, o miniconto ficou na minha cabeça e me trouxe curiosidades sobre o pintor italiano citado (tipo: “putz! não sei nada desse tal de Modigliani”). Como em outros minicontos do livro, este trazia uma ilustração: no caso, um desenho reproduzindo uma pintura de Modigliani.
Passei a estudar e procurar obras de Modigliani. Nessa busca febril e fascinada, me deparei também com o fodástico filmaço “Modigliani - A Paixão pela Vida” na locadora Total, no Centro de Valença/RJ. A interpretação entusiasmada (super-hiper-fodástica) de Andy Garcia como Modigliani (ou “Modi”, para os íntimos), o roteiro poético e apaixonado pelo pintor, a histórica rivalidade entre ele e Picasso, tudo no filme – até seus momentos sombrios e alucinados – me levaram a me encantar ainda mais pelo revolucionário artista italiano. Consequentemente, me aprofundei ainda mais nas obras de Modigliani e, agora com a sugestão de Juliana Guida Maia, pude dar um passo a mais nesse mergulho modigliano.
Eis meu primeiro presente poético para vocês, amigos leitores que estimulam minha louca lucidez lírica e permitem a longevidade deste blog: “Os olhos nos olhos de Modigliani”.
Boa leitura e Arte Sempre!  

Os olhos nos olhos de Modigliani


I
Os

eram felinos, ariscos,
artigos bem definidos,
tinham brilhos famintos
que devoravam minha hesitação.

excitação... Os seus olhos saltavam em minhas mãos
e domavam minha tela.
Os seus olhos,
jamais meus,
sempre
Os seus.

por isso rejeito aplausos:
as palmas são para
Os seus
o
l
h
Os.




II
olhos

olhos
às vezes, negros como noites roubando o sustento dos girassóis,
às vezes, claros como oceanos ensolarados descansando em aquários,
mas sempre tomando a vista inteira,
tomando vida,
me levando à cegueira,
pedaço de corpo protagonizando a tela inteira.



III
nos

nos
contração
de
pre
posição
e
definição.
nos
liga
de elementos
dentro
entremeio
intermediário
centralizado.
nos
oblíquos
passivos
objeto
sujeito disfarçado.

nos
ponte
levadiça e perpétua
erguida
caindo
bem de
vagar.
nos
é o meu pincel
dançando
entre meus olhos
e
Os seus.



IV
olhos

olhos
alargaram os limites de seu espaço
e choraram o infinito da vida nas dimensões finitas de meus retratos.



V
de

pre
posição
pura
liga
Os olhos
à sua pessoa

ser artista é fazer o poder de ter o de,
sustentar a inveja vampira,
é assinar o seu olhar nos olhos de outros
é tomar o de de outros pra si.



VI
Modigliani

Modigliani é apenas um nome
metido a maiúsculo
mas minúsculo
se você olhar bem...

biógrafos negam,
mas sempre fui pintor cego
e, refém da escuridão plena,
desejei ardentemente
todas as visões iluminadas.
por isso roubei
com tamanha febre
as luzes que desfilavam
em seus olhos nublados...

biógrafos enganados
me deram holofotes equivocados;
apenas encontrei o que já estava localizado:
se meus olhos brilharam
foi porque roubei as estrelas
cultivadas em você.

Os seus olhos ávidos
pousados em meu ateliê
foram constelações que pra mim posaram
para que meu eu cego pudesse ver!




Um comentário:

  1. Valeu por ter acatado a sugestão. Amei o maravilhoso, fodástico, incrível,concreto, moderno, poético, poema-pintura-perfeito!

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